Honório e Amélia formavam um casal bonito.
Ele, um advogado criminalista, muito respeitado nos meios jurídicos pela lisura e competência.
Amélia, uma mulher bonita e elegante, vinha de uma família tradicional paulista, os tais "Barões do café", criada com muito luxo e mimo. Felizmente casara com o homem perfeito, capaz de dar continuidade àquela vida de riqueza e conforto.
Não tiveram filhos. E, apesar da intensa vida social que a posição lhes proporcionava, jantares com ilustres, festas, reuniões... a vida caíra na rotina.
Honório trabalhava além da conta e Amélia compensava a solidão nas compras; tornara-se uma consumidora voraz e compulsiva.
Estava no "shopping", numa loja de grife masculina; comprava um presente a Honório; estava chegando o dia de seu aniversário. Encontrou-se ali, por acaso, com Gustavo, amigo da família. Ele estivera fora do Brasil nos últimos cinco anos, presidindo na Inglaterra uma multinacional.
Cavalheiro, de gosto refinado e expert em moda, foi solicitado pra ajudá-la nas compras. Claro, ele não recusou o convite e o bate-papo continuou num café expresso.
Entre um café e um "cupcake" não só os assuntos foram colocados em dia... Surgiu o convite para um novo encontro... Mais outro... E foi assim que Amélia e Gustavo tornaram-se amantes.
Amélia parecia outra mulher; até as ajudantes do dia-a-dia recebiam um novo tratamento. Rejuvenesceu por dentro e por fora. Vivia cantando. Era uma amante de primeira, dentro e fora de casa. Não podia levantar suspeitas.
Honório que não era bobo nem nada, claro, percebeu a transformação. Mas Amélia era cautelosa, sabia manobrar a situação.
Era quinta-feira, uma tarde mais que especial. Gustava voltava de uma viagem de negócios que durou um mês. Trouxera à amante um belíssimo casaco de vison.
O tal casaco, sonho de consumo de muitas mulheres, tornou-se um pesadelo à Amélia. Como levá-lo pra casa? De jeito nenhum. Mentir ao marido que havia comprado, nem pensar. O coitado estava com dívidas atrasadas; os limites dos cartões de crédito foram estourados por ela.
Pintou-lhe uma idéia brilhante: passou na Caixa Econômica Federal e penhorou o casaco. Conseguiu uma boa quantia em dinheiro. Perfeito!
Em casa, convenceu Honório da sua boa intenção: com dor no coração, penhorara aquele conjunto de esmeraldas, relíquia de família; queria colaborar com o pagamento das contas; não era justo ele estar passando por tais sufocos por conta dos gastos excessivos, que ela, inconsequentemente, provocara com compras desnecessárias.
Até que Honório ficou comovido com o despreendimento de Amélia, num primeiro momento. Sabia o valor efetivo daquela jóia, que pertencera a sua bisavó.
Mas...uma pulguinha instalou-se atrás da sua orelha e ali fixou morada. Milhóes de pensamentos e suposições. Ficou mais atento às saídas da esposa, voltava pra casa em horários diferentes, alterou sua rotina de trabalho...
Numa tarde qualquer, chuvosa e muito fria, Honório telefonou a Amélia. Intimou-a carinhosamente a dar um pulo até o escritório. Convenceu-a. Tinha uma boa novidade. Curiosa como toda mulher, deixou a má vontade de lado e não demorou quase nada pra chegar lá.
Estava ansiosa. Nunca havia acontecido qualquer situação semelhante àquela.
__ Tenho um presente pra você, meu amor. Hoje é um dia especial!
__ Presente, Honório? Será que me esqueci de alguma data importante? Você me deixou encabulada!
Ele entegou-lhe uma caixa grande.
Amélia balançava a caixa, virava, revirava, tentando adivinhar o conteúdo. Nenhum ruído. A excitação aumentou; arrancou bruscamente a fita e rasgou o papel que tão delicadamente ornava a caixa. Dentro da caixa grande havia uma outra menor e uma cartinha; mas era estranho, o papel estava amassado e amarelado. Coisa antiga.
Desprezou o papel dobrado e abriu a caixa menor. Não podia ser! Pálida, sem cor, caiu numa poltrona que, por sorte, estva bem atrás dela, tendo nas mãos... aquele famoso conjunto de esmeraldas.
Honório grita a sua secretária solicitando, com urgência um copo com água.
A funcionária obedece e num instante, assustada, entra na sala vestindo um lindo casaco de vison.
Amélia infarta.
NOTA: O bilhete que Amélia não conseguiu ler, escrito num papel velho e amassado, dizia assim:
A você, Gustavo
meu único amor
Estava sozinha
Mais do que precisava
Mais do que podia dar conta.
Chegou VOCÊ de surpresa
Pegou-me de jeito
Não hesitei, me entreguei
E de pronto te amei.
Um brinde de vinho tinto
Só nós dois nos escombros da lua
Ao sentimento que tanto sinto
À minha vida que é só sua!
(para sempre,
sua Amélia)
S.P.27/maio/1972
Obs. Gustavo querido, guarde-o
sempre juntinho de você
Neste"espaço", divido com meus amigos um pouquinho de mim, um pouquinho do que gosto e acredito. E quero compartilhar com eles as pessoinhas que me fazem feliz e que me fazem acreditar na possibilidade de um mundo MELHOR.
terça-feira, 21 de junho de 2011
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Imaginação ou verdade?
O seleiro José Amaro não voltara pra casa como habitualmente fazia todas as tardinhas. Procurado por amigos e familiares foi encontrado sem vida debruçado sobre seu tamborete e agarrado ao martelo, sua principal ferramenta de trabalho.
Que sina a sua! Fora enterrado sem choro nem comoção.
Sinhá, sua esposa, lacrou a oficina do jeito que estava e ninguém mais entrou lá.
A rotina estabeleceu-se facilmente, pois ela e a filha esquisita até agradeciam a morte do seleiro.
Tudo corria bem até que...
A noite surgiu estonteante de tão bela. Estrelas tantas brilhavam como nunca, causando inveja ao bando de vagalumes que teimavam em competir com elas; a lua de tão cheia parecia que ia explodir feito bolha de sabão, a saparia gemia de felicidade e a coruja agarrada ao galho do pessegueiro tomava conta de tudo.
Sinhá e a filha, sentadas no alpendre, tagarelavam planos, enquanto suas mãos hábeis e ligeiras davam conta das linhas coloridas perpassando no tecido branco e desenhando bordados.
Ouviram sons estranhos que vinham da cozinha. Eram marteladas pesadas e ritmadas, iguaizinhas às que o seleiro desferia no couro.
Agarraram-se e de olhos fechados puseram-se a rezar baixinho... Voltou o silêncio. Passo a passo, as duas caminharam até a cozinha e, acreditem, todo o alumínio da casa estava amassado, destruído e atirado ao chão. A porta continuava trancada e a chave na fechadura intata. Alma do outro mundo?
As duas fizeram às escondidas um buraco grande no quintal onde enterraram todas as peças. O segredo fora guardado.
O tempo correu e aquela sexta-feira amanheceu diferente: o sol estava encoberto por nuvens negras que foram se ajuntando num bloco só. O dia virou noite. Ninguém saiu de casa. Um vento forte corria veloz e arrancava o que vinha a sua frente; os cães latiam alto formando um coral desafinado de vozes desesperadas. Granizos enormes estilhaçavam os vidros das janelas e esburacavam telhas de barro. Lá fora o chão ficou escondido debaixo de um tapete branco e fofo.
Mas finalmente o sol venceu a batalha. Parou a chuva, o vento fugiu e o gelo começou a derreter.
Os moradores, aos pouquinhos foram deixando suas casas pra conferir os estragos. Mas era estranho... Cada família que saía, logo retornava e se trancava em casa.
È que lá fora algo inédito acontecera. A vila estava irreconhecível. Panelas, caldeirões, bules.. alúminios esparramavam-se amassados por tudo quanto é canto; até enroscados em galhos de árvores.
È... não dava mais pra esconder. A força da tempestade foi tanta que conseguiu reabrir buracos cavados recentemente em cada moradia.
Todos da vila tinham recebido a visita do "MARTELADOR", destruidor de alumínio. E todos calaram o bico.
Sinhá, que não era nem boba, estava desconfiada; deixou a poeira baixar, criou coragem e foi até a oficina de selas, fechada desde a morte do marido.
O local abandonado era sinistro. Uma camada grossa de poeira cobria tudo, aranhas gigantes se arrastavam nas teias artesanalmente entrelaçadas, ratos espiavam desconfiados e apressados escondiam-se entre as tralhas. Todas as ferramentas desapareceram das prateleiras. Sobre o tamborete descansava um MARTELO muito grande, descomunal e, mesmo no escuro, brilhava feito ouro.
Este fato aconteceu no vilarejo onde meus bisavós moravam que contaram pros meus avós que contaram pro meu pai que contou pra mim.
Acredito muito na minha família. Sei que ninguém mente nem inventa histórias.
Você, acredite se quiser!
(Texto escrito por Hirtis)
Que sina a sua! Fora enterrado sem choro nem comoção.
Sinhá, sua esposa, lacrou a oficina do jeito que estava e ninguém mais entrou lá.
A rotina estabeleceu-se facilmente, pois ela e a filha esquisita até agradeciam a morte do seleiro.
Tudo corria bem até que...
A noite surgiu estonteante de tão bela. Estrelas tantas brilhavam como nunca, causando inveja ao bando de vagalumes que teimavam em competir com elas; a lua de tão cheia parecia que ia explodir feito bolha de sabão, a saparia gemia de felicidade e a coruja agarrada ao galho do pessegueiro tomava conta de tudo.
Sinhá e a filha, sentadas no alpendre, tagarelavam planos, enquanto suas mãos hábeis e ligeiras davam conta das linhas coloridas perpassando no tecido branco e desenhando bordados.
Ouviram sons estranhos que vinham da cozinha. Eram marteladas pesadas e ritmadas, iguaizinhas às que o seleiro desferia no couro.
Agarraram-se e de olhos fechados puseram-se a rezar baixinho... Voltou o silêncio. Passo a passo, as duas caminharam até a cozinha e, acreditem, todo o alumínio da casa estava amassado, destruído e atirado ao chão. A porta continuava trancada e a chave na fechadura intata. Alma do outro mundo?
As duas fizeram às escondidas um buraco grande no quintal onde enterraram todas as peças. O segredo fora guardado.
O tempo correu e aquela sexta-feira amanheceu diferente: o sol estava encoberto por nuvens negras que foram se ajuntando num bloco só. O dia virou noite. Ninguém saiu de casa. Um vento forte corria veloz e arrancava o que vinha a sua frente; os cães latiam alto formando um coral desafinado de vozes desesperadas. Granizos enormes estilhaçavam os vidros das janelas e esburacavam telhas de barro. Lá fora o chão ficou escondido debaixo de um tapete branco e fofo.
Mas finalmente o sol venceu a batalha. Parou a chuva, o vento fugiu e o gelo começou a derreter.
Os moradores, aos pouquinhos foram deixando suas casas pra conferir os estragos. Mas era estranho... Cada família que saía, logo retornava e se trancava em casa.
È que lá fora algo inédito acontecera. A vila estava irreconhecível. Panelas, caldeirões, bules.. alúminios esparramavam-se amassados por tudo quanto é canto; até enroscados em galhos de árvores.
È... não dava mais pra esconder. A força da tempestade foi tanta que conseguiu reabrir buracos cavados recentemente em cada moradia.
Todos da vila tinham recebido a visita do "MARTELADOR", destruidor de alumínio. E todos calaram o bico.
Sinhá, que não era nem boba, estava desconfiada; deixou a poeira baixar, criou coragem e foi até a oficina de selas, fechada desde a morte do marido.
O local abandonado era sinistro. Uma camada grossa de poeira cobria tudo, aranhas gigantes se arrastavam nas teias artesanalmente entrelaçadas, ratos espiavam desconfiados e apressados escondiam-se entre as tralhas. Todas as ferramentas desapareceram das prateleiras. Sobre o tamborete descansava um MARTELO muito grande, descomunal e, mesmo no escuro, brilhava feito ouro.
Este fato aconteceu no vilarejo onde meus bisavós moravam que contaram pros meus avós que contaram pro meu pai que contou pra mim.
Acredito muito na minha família. Sei que ninguém mente nem inventa histórias.
Você, acredite se quiser!
(Texto escrito por Hirtis)
Em busca da" PAZ"
O Mestre José Amaro, preso àquele tamborete, batendo selas num movimento único, produzia um som articulado e tão monótono quanto era sua vida. Até dormindo a toada do martelo não o abandonava. Pudera, desde pequeno aprendera o ofício com o pai e nunca mais o largara.
Desanimado, voltava pra casa depois de mais um dia de labuta e já sabia o que o esperava: uma mulher que o aturava e uma filha bem esquisita.
Ia cabisbaixo, solitário... Pôs-se a pensar; engulo todos os dias mediocridade, vaidades, hipocrisias, pessoinhas fúteis e vãs e é agora, ao final da tarde, que tento vomitar todas essas coisas ruins.
Sentiu um vazio na alma. Era melancolia. Estava no escuro, mesmo sendo ainda de dia.
Mas eis que sem mais nem porquê sentiu um DESEJO: sair daquela estrada e caminhar sem rumo nem direção.
È o desejo que move o mundo, é a arma da conquista; é o desejo que sugere mudanças, dilacera o medo, desfaz amarras, desprende raízes fincadas na terra, passa por cima da cautela e do pessimismo. Se há DESEJO há ESPERANÇA.
Será que Amaro despertara do pesadelo que era sua vida? Dizem que é na pausa, no silêncio que nascem pensamentos fantásticos, decisões importantes, tentativas de soluções...
O seleiro não percebera quanto tempo já se passara, mas a noite chegou esfusiante, transbordando alegria. Pintou no céu azul uma lua crescente e estrelas mil que cochichavam um cochicho harmonioso. Amaro, imerso no seu silêncio, ouviu-as e pôs-se a assobiar cauteloso para não errar o compasso e a melodia.
O nosso homem caminhou longe, perdido entre árvores altas e baixas. Sentia o vento macio alisar a pele áspera do rosto maltratado e que desarranjava sua cabeleira farta. Estava feliz.
Sem selas, montou nos flancos do corcel branco e galopou livre, sem rédeas nem amarras. As patas do cavalo troteavam tão ligeiro que, arrancavam galhos, espantavam sabiás, sapateavam no lodo, escalavam montanhas.
Para Amaro era a sensação suprema da liberdade que acalma nossa alma, que nos leva ao sonho da loucura sem enlouquecer, ao sonho da fantasia sem se fantasiar, ao sonho do amor antes de se entregar.
Em tão pouco tempo o seleiro descobriu que a vida não é poupança que quanto mais se guarda mais se tem. A vida é pra ser gasta; quanto mais se vive, mais vida se tem.
A noite passou voando como uma ãguia em direção a sua presa. O sol brilhava forte e poderoso. Sinhá acordou e notou a ausência do marido. Dormiu profundo e nem se deu conta.
Percorreu todos os aposentos da casa e encontrou-o na cadeira de balanço no alpendre. Rosto sereno, leve sorriso, semblante de paz.
E a paz tem sabor de água, sabor de nada, é indefinível. A paz refresca, hidrara, saceia. Não traz úlceras como o café e a paixão, nem provoca ressaca como o ódio e o vinho. Paz é quando o coração bate e a gente nem nota.
O coração do seleiro José Amaro, a gente notava, que no balanço adormecera em paz, para sempre.
(Texto escrito por Hirtis)
Desanimado, voltava pra casa depois de mais um dia de labuta e já sabia o que o esperava: uma mulher que o aturava e uma filha bem esquisita.
Ia cabisbaixo, solitário... Pôs-se a pensar; engulo todos os dias mediocridade, vaidades, hipocrisias, pessoinhas fúteis e vãs e é agora, ao final da tarde, que tento vomitar todas essas coisas ruins.
Sentiu um vazio na alma. Era melancolia. Estava no escuro, mesmo sendo ainda de dia.
Mas eis que sem mais nem porquê sentiu um DESEJO: sair daquela estrada e caminhar sem rumo nem direção.
È o desejo que move o mundo, é a arma da conquista; é o desejo que sugere mudanças, dilacera o medo, desfaz amarras, desprende raízes fincadas na terra, passa por cima da cautela e do pessimismo. Se há DESEJO há ESPERANÇA.
Será que Amaro despertara do pesadelo que era sua vida? Dizem que é na pausa, no silêncio que nascem pensamentos fantásticos, decisões importantes, tentativas de soluções...
O seleiro não percebera quanto tempo já se passara, mas a noite chegou esfusiante, transbordando alegria. Pintou no céu azul uma lua crescente e estrelas mil que cochichavam um cochicho harmonioso. Amaro, imerso no seu silêncio, ouviu-as e pôs-se a assobiar cauteloso para não errar o compasso e a melodia.
O nosso homem caminhou longe, perdido entre árvores altas e baixas. Sentia o vento macio alisar a pele áspera do rosto maltratado e que desarranjava sua cabeleira farta. Estava feliz.
Sem selas, montou nos flancos do corcel branco e galopou livre, sem rédeas nem amarras. As patas do cavalo troteavam tão ligeiro que, arrancavam galhos, espantavam sabiás, sapateavam no lodo, escalavam montanhas.
Para Amaro era a sensação suprema da liberdade que acalma nossa alma, que nos leva ao sonho da loucura sem enlouquecer, ao sonho da fantasia sem se fantasiar, ao sonho do amor antes de se entregar.
Em tão pouco tempo o seleiro descobriu que a vida não é poupança que quanto mais se guarda mais se tem. A vida é pra ser gasta; quanto mais se vive, mais vida se tem.
A noite passou voando como uma ãguia em direção a sua presa. O sol brilhava forte e poderoso. Sinhá acordou e notou a ausência do marido. Dormiu profundo e nem se deu conta.
Percorreu todos os aposentos da casa e encontrou-o na cadeira de balanço no alpendre. Rosto sereno, leve sorriso, semblante de paz.
E a paz tem sabor de água, sabor de nada, é indefinível. A paz refresca, hidrara, saceia. Não traz úlceras como o café e a paixão, nem provoca ressaca como o ódio e o vinho. Paz é quando o coração bate e a gente nem nota.
O coração do seleiro José Amaro, a gente notava, que no balanço adormecera em paz, para sempre.
(Texto escrito por Hirtis)
terça-feira, 31 de maio de 2011
O causo do italiano Ninim
Seu Ninim é um dos muitos italianos que fugiram da Europa para o Brasil após as duas grandes guerras mundiais.
Chegou casado com Dona Rosina e como tantos outros imigrantes instalaram-se numa fazenda cafeeira num dos "cafundó" de São Paulo.
Tiveram três filhos homens e depois de muitos anos de trabalho...muito suor... e muita economia compraram alguns alqueires de terra do ex-patrão; após a morte da esposa, ali vive até hoje com o filho mais velho, Toninho, casado com Dona Ivone e mais três netos.
Ao completar oitenta anos, já com a vista cansada e as pernas que não ajudavam mais, foi forçado a deixar a labuta. Foi um momento de decisão bastante difícil, orgulhoso da boa disposição e destreza pra lidar com a roça, as ferramentas e os animais.
Todos os negócios ficaram por conta do filho. Com dinheiro, fazia tempo que seu Ninim não lidava mais. Não conseguiu acompanhar e nem compreender tantas alterações na nossa moeda. Não sabia mais o que custava caro e o que era barato. Só dava conta dos contos de réis e do cruzeiro.
Todos da casa trabalhavam na lavoura do algodão e cultivavam um "cadinho" de arroz e outro de feijão para consumo próprio. E conforme pensamento de seu Ninim, em sítio de italiano "num pode fartá" um bom galinheiro com um galo bem macho "pra dá conta das galinha". Elas têm a obrigação de "botá ovo bão tudo dia", gema bem amarelinha "pra dexá tudo mundo fortinho". E "pra cumê" só os frangos-machos.
O chiqueiro cheinho é de onde sai todo mês um porco graúdo "pra num dexá fartá" carne, linguiça, torresmo e banha. Dá gosto ver as fileiras de linguiça penduradas na cozinha.
No pasto estão algumas cabeças de gado e uma vaca leiteira. Tirar leite da Mimosa seu Ninim não abriu mão e todo dia, por volta das seis horas da manhã, lá vem ele com o caldeirão cheinho de leite.
Ah! Ia me esquecendo da horta. Zequinha, o neto mais velho, cuida dele com muito jeito. Aprendeu tudo com a "nona" Rosina. E dela saem todos os dias "foias verdinha" e tempero pro almoço.
Quer ver o "zoinho" de seu Ninim brilhar? É quando Dona Ivone faz a polenta quentinha "se esparramá" no "fondar", acompanhada de uma fritada de linguiça purinha de carne de porco.
Do tempo de seu Ninim só ficaram dois italianos, seu Pedro e seu Gijo, moradores de Iberê, cidadezinha próxima do sítio, não dá mais que oito quilômetros de distância.
Iberê não foi pra frente, não cresceu como se esperava, rodeada que era de fazendas cafeeiras.
O café prometia fartura e progresso, mas não durou muito e foi se acabando. A terra já não era mais tão fértil, as despesas para o cultivo eram altas, os juros bancários elevados, sem contar que o cafezal só produz frutos a partir do quinto ano de seu plantio. E durante todos esses anos o agricultor ia se virando como podia.
Os italianos primeiros foram morrendo e a grande maioria dos descendentes se deslocaram pra cidade grande.
Iberê ficou pra trás com a igreja matriz no centro, rodeada por um jardim bem cuidado, a prefeitura, o correio, a CEF, um comércio bem simples e a casa lotérica, onde todos faziam a sua "Fezinha". Até seu Ninim.
Quase toda semana seu Ninim pegava sua charrete velhinha atrelada à égua Pampa, sua xodó, e tocava até Iberê bater papo com os dois amigos. Passavam horas recordando os bons e velhos tempos, bebericando aquela "pinguinha braba", a "mió" do boteco de seu Osório.
Naquele dia seu Ninim não chegava em casa. A família toda preocupada estava de prontidão no terreiro e Toninho já estava com o cavalo atrelado. Mas eis que lá na virada da curva aparecem seu Ninim e a égua.
Ela caminhava lentamente, mais que de costume, respirava com dificuldade, parava um pouquinho, tomava fôlego, parecia que não ia chegar. Mas chegou...
Pudera! A carroceria estava carregada de caixas empilhadas, tamanhos diversos. Eram muitas, nem dava pra contar...
Seu ninim "apeou" tranquilo, não deu explicações nem permitiu perguntas e ordenou que as caixas fossem levadas pra dentro de casa.
Estava cansado e foi dormir bem cedo.
Os familiares sem saber de nada passaram quase a noite inteira contando dinheiro. E eram só notas de cem reais.
Amanheceu.
O italiano chamou os familiares e falou calmamente diante da grande surpresa de todos:
__Toninho, vá até Iberê, passe no banco e traga as "otras caxas que ficaro lá. Num é que na semana passada, eu acertei os número da Sena?"
(Texto criado por Hirtis)
Chegou casado com Dona Rosina e como tantos outros imigrantes instalaram-se numa fazenda cafeeira num dos "cafundó" de São Paulo.
Tiveram três filhos homens e depois de muitos anos de trabalho...muito suor... e muita economia compraram alguns alqueires de terra do ex-patrão; após a morte da esposa, ali vive até hoje com o filho mais velho, Toninho, casado com Dona Ivone e mais três netos.
Ao completar oitenta anos, já com a vista cansada e as pernas que não ajudavam mais, foi forçado a deixar a labuta. Foi um momento de decisão bastante difícil, orgulhoso da boa disposição e destreza pra lidar com a roça, as ferramentas e os animais.
Todos os negócios ficaram por conta do filho. Com dinheiro, fazia tempo que seu Ninim não lidava mais. Não conseguiu acompanhar e nem compreender tantas alterações na nossa moeda. Não sabia mais o que custava caro e o que era barato. Só dava conta dos contos de réis e do cruzeiro.
Todos da casa trabalhavam na lavoura do algodão e cultivavam um "cadinho" de arroz e outro de feijão para consumo próprio. E conforme pensamento de seu Ninim, em sítio de italiano "num pode fartá" um bom galinheiro com um galo bem macho "pra dá conta das galinha". Elas têm a obrigação de "botá ovo bão tudo dia", gema bem amarelinha "pra dexá tudo mundo fortinho". E "pra cumê" só os frangos-machos.
O chiqueiro cheinho é de onde sai todo mês um porco graúdo "pra num dexá fartá" carne, linguiça, torresmo e banha. Dá gosto ver as fileiras de linguiça penduradas na cozinha.
No pasto estão algumas cabeças de gado e uma vaca leiteira. Tirar leite da Mimosa seu Ninim não abriu mão e todo dia, por volta das seis horas da manhã, lá vem ele com o caldeirão cheinho de leite.
Ah! Ia me esquecendo da horta. Zequinha, o neto mais velho, cuida dele com muito jeito. Aprendeu tudo com a "nona" Rosina. E dela saem todos os dias "foias verdinha" e tempero pro almoço.
Quer ver o "zoinho" de seu Ninim brilhar? É quando Dona Ivone faz a polenta quentinha "se esparramá" no "fondar", acompanhada de uma fritada de linguiça purinha de carne de porco.
Do tempo de seu Ninim só ficaram dois italianos, seu Pedro e seu Gijo, moradores de Iberê, cidadezinha próxima do sítio, não dá mais que oito quilômetros de distância.
Iberê não foi pra frente, não cresceu como se esperava, rodeada que era de fazendas cafeeiras.
O café prometia fartura e progresso, mas não durou muito e foi se acabando. A terra já não era mais tão fértil, as despesas para o cultivo eram altas, os juros bancários elevados, sem contar que o cafezal só produz frutos a partir do quinto ano de seu plantio. E durante todos esses anos o agricultor ia se virando como podia.
Os italianos primeiros foram morrendo e a grande maioria dos descendentes se deslocaram pra cidade grande.
Iberê ficou pra trás com a igreja matriz no centro, rodeada por um jardim bem cuidado, a prefeitura, o correio, a CEF, um comércio bem simples e a casa lotérica, onde todos faziam a sua "Fezinha". Até seu Ninim.
Quase toda semana seu Ninim pegava sua charrete velhinha atrelada à égua Pampa, sua xodó, e tocava até Iberê bater papo com os dois amigos. Passavam horas recordando os bons e velhos tempos, bebericando aquela "pinguinha braba", a "mió" do boteco de seu Osório.
Naquele dia seu Ninim não chegava em casa. A família toda preocupada estava de prontidão no terreiro e Toninho já estava com o cavalo atrelado. Mas eis que lá na virada da curva aparecem seu Ninim e a égua.
Ela caminhava lentamente, mais que de costume, respirava com dificuldade, parava um pouquinho, tomava fôlego, parecia que não ia chegar. Mas chegou...
Pudera! A carroceria estava carregada de caixas empilhadas, tamanhos diversos. Eram muitas, nem dava pra contar...
Seu ninim "apeou" tranquilo, não deu explicações nem permitiu perguntas e ordenou que as caixas fossem levadas pra dentro de casa.
Estava cansado e foi dormir bem cedo.
Os familiares sem saber de nada passaram quase a noite inteira contando dinheiro. E eram só notas de cem reais.
Amanheceu.
O italiano chamou os familiares e falou calmamente diante da grande surpresa de todos:
__Toninho, vá até Iberê, passe no banco e traga as "otras caxas que ficaro lá. Num é que na semana passada, eu acertei os número da Sena?"
(Texto criado por Hirtis)
sábado, 21 de maio de 2011
Vou contar um causo
Era domingo. Brincavam na fazenda do vovô um rapazinho arretado que dizia não ter medo de nada e dois primos seus medrosos de causar dó.
Naquela semana chegara no pasto, trazido lá das bandas das Minas Gerais, um cavalo orgulhoso e selvagem. Se alguém dele se aproximava, dava coices e, apoiado nas patas traseiras, quase sentado, empinava as patas dianteiras bem lá pro alto impondo medo e respeito. Vovô até já contratara um peão pra domá-lo.
Ninguém ousava chegar perto. Ninguém não... Foi desafiado pelo menino corajoso e sem juízo. Como quem não queria nada foi se aproximando do animal. Devagarinho... bem devagarinho.
Olhos fixos nos olhos da fera. O animal foi se acomodando... se acomodando... Parecia hipnotizado.
Num impulso violento e rápido o menino saltou, enlaçou as pernas nas ancas do animal e cravou-lhe na pele o salto da botina velha e carcomida pelo uso e pelo tempo.
O animal nervoso deu um pinote mais alto que todos os outros e saiu galopando desenfreado pasto afora. Fora desafiado e não gostara disso nem um pouco.
Entrou no brejo, escorregou no barro, embrenhou-se no mato, saltou sobre montes de galhos secos, fez de tudo um pouco. Não conseguiu desvencilhar-se da companhia indesejada e intrusa. Não podia aceitar esse desafio.
Nessa corrida maluca surgiu a frente um obstáculo maior que todos, uma cerca bem alta feita de arame farpado. Parecia que não ia dar tempo; o cavalo não exitou, voou alto feito um gavião e caiu sobre as quatro patas no outro lado do terreno. Sacolejou pra direita, pra esquerda, relinchou bem alto feito um Titã e vitorioso desapareceu no meio do mato.
O menino ficou estendido no chão sangrando muito.
Os outros dois meninos tinham certeza de que o primo estva morto. Eles não tinham tempo pra perder. Carregarram o falecido até a casa grande da fazenda, espiaram pela porta principal e não avistaram ninguém. Abandonaram o corpo inerte no primeiro quarto da frente e fugiram. Seja lá o que Deus quiser.
Morrer o menino valente não morreu. Senão eu não estaria aqui pra contar esse "causo" que aconteceu com o meu pai.
(texto criado por Hirtis)
Naquela semana chegara no pasto, trazido lá das bandas das Minas Gerais, um cavalo orgulhoso e selvagem. Se alguém dele se aproximava, dava coices e, apoiado nas patas traseiras, quase sentado, empinava as patas dianteiras bem lá pro alto impondo medo e respeito. Vovô até já contratara um peão pra domá-lo.
Ninguém ousava chegar perto. Ninguém não... Foi desafiado pelo menino corajoso e sem juízo. Como quem não queria nada foi se aproximando do animal. Devagarinho... bem devagarinho.
Olhos fixos nos olhos da fera. O animal foi se acomodando... se acomodando... Parecia hipnotizado.
Num impulso violento e rápido o menino saltou, enlaçou as pernas nas ancas do animal e cravou-lhe na pele o salto da botina velha e carcomida pelo uso e pelo tempo.
O animal nervoso deu um pinote mais alto que todos os outros e saiu galopando desenfreado pasto afora. Fora desafiado e não gostara disso nem um pouco.
Entrou no brejo, escorregou no barro, embrenhou-se no mato, saltou sobre montes de galhos secos, fez de tudo um pouco. Não conseguiu desvencilhar-se da companhia indesejada e intrusa. Não podia aceitar esse desafio.
Nessa corrida maluca surgiu a frente um obstáculo maior que todos, uma cerca bem alta feita de arame farpado. Parecia que não ia dar tempo; o cavalo não exitou, voou alto feito um gavião e caiu sobre as quatro patas no outro lado do terreno. Sacolejou pra direita, pra esquerda, relinchou bem alto feito um Titã e vitorioso desapareceu no meio do mato.
O menino ficou estendido no chão sangrando muito.
Os outros dois meninos tinham certeza de que o primo estva morto. Eles não tinham tempo pra perder. Carregarram o falecido até a casa grande da fazenda, espiaram pela porta principal e não avistaram ninguém. Abandonaram o corpo inerte no primeiro quarto da frente e fugiram. Seja lá o que Deus quiser.
Morrer o menino valente não morreu. Senão eu não estaria aqui pra contar esse "causo" que aconteceu com o meu pai.
(texto criado por Hirtis)
quarta-feira, 16 de março de 2011
Ver e não Crer
A família de Juliana teve que deixar a casa no bairro Paraíso, onde moravam desde o nascimento da menina. O aluguel estava caro demais por conta da especulação imobiliária que atingiu todo o país. Conseguiram uma casa num valor acessível e se transferiram para o Jabaquara.
Juliana foi a que mais sentiu a mudança: deixou a casa onde crescera, a escola, a turma e o namorado. Mas o que fazer? Circunstâncias da vida.
No começo sentia-se um peixe fora d'água no colégio novo, pois é sabido que os adolescentes costumam hostilizar gente nova no pedaço. Mas seu jeitinho simples, atencioso e comunicativo facilitou-lhe a vida.
Aos poucos foi se ajustando e ganhando simpatia. Não foi tão difícil achegar-se a duas garotas da sua classe, Chris e Letícia, tão diferentes no estilo e tão companheiras em tudo; não se largavam por nada, era até bonito de se ver.
Chris é estilosa, antenada na moda, unhas compridas e sempre pintadas, cabelo loiro mexado; Letícia, por sua vez, descolada e displicente, não aposenta as calcas de moleton, largas e confortáveis e o tênis já gasto, mas inseparável. Adora jogar futebol com os meninos e é craque na defesa, não deixa bola nenhuma passar.
As três se juntaram na amizade, nas confidências e nos segredinhos.
Era segunda-feira e Juliana chegou à escola amuada, ausente, olhos fundos de quem não dormiu nada e chorou muito.
Confidenciou às amigas que não sabia o que estava acontecendo com seu namorado Pedro. Durante toda semana ele não atendeu suas ligações, deixara vários recados na caixa postal e nenhum foi retornado, mandara emails e nada; no sábado, sem avisá-lo, foi até sua casa. Tinha certeza que ele estava lá e não quis nem vê-la.
A semana toda foi assim e Juliana definhava na sua tristeza, era a imagem da Madona chorando a ausência do Menino Jesus arrancado de seus braços.
Chris e Letícia eram garotas de atitude e iam correr atrás do prejuízo. Mexeram e remexeram na mochila de Juliana e encontraram o que queriam: o endereço de Pedro.
No sábado seguinte, de manhã, estavam as duas em frente ao número 442, na rua Aymorés, endereço do tal Pedro. O rapaz ainda estava dormindo, foi pego de surpresa e não teve tempo pra fugir.
Na cara dura, foi chamado de covarde e moleque; Juliana merecia ao menos uma explicação pelo seu afastamento, uma menina de ouro não merecia passar por aquela humilhação.
Pedro ouviu calado gatos e bugalhos, ouviu o que queria e o que não queria; não ousou nem esboçou qualquer reação, porque viu que as duas garotas eram fogo.
Quando deixaram o rapaz abrir a boca, ele contou que estivera duas vezes nos portões do colégio pra fazer surpresa a Juliana e, nas duas vezes, viu sua namorada acompanhada de um rapaz alto, forte, boa pinta; pareciam tão íntimos, felizes, rindo com facilidade. Sentiu-se traído e louco de ciúmes. Decidiu afastar-se dela, apesar do amor intenso que o queimava por dentro. Estava fazendo de tudo para esquecê-la.
À medida que Pedro ia contando, Letícia e Chris se entreolhavam com ar malandro, riso apertado entre os lábios que, num dado momento, explodiu numa gargalhada debochada.
__O garoto é nosso amigo. E jamais haveria qualquer interesse entre eles, além de uma amizade verdadeira. O Paolo é gay assumido e aceito numa boa pelo grupo.
Pedro morreu de vergonha. Não queria nem podia acreditar na tolice que fizera. E o arrrpendimento, então? O quanto era infantil...
Como dizem os mais velhos, "há males que vem pro bem" e são as lições da vida que nos trazem amadurecimento.
Os três tomaram o primeiro ônibus, Pedro desceu perto da casa de Juliana.
Não havia tempo a perder...Mil perdões, mil provas de amor, se necessário fosse...
Juliana era a sua princesa, uma jóia valiosa e ele sabia como era difícil viver sem ela.
(Texto criado a partir da leitura de duas gravuras)
Criação: Hirtis
Juliana foi a que mais sentiu a mudança: deixou a casa onde crescera, a escola, a turma e o namorado. Mas o que fazer? Circunstâncias da vida.
No começo sentia-se um peixe fora d'água no colégio novo, pois é sabido que os adolescentes costumam hostilizar gente nova no pedaço. Mas seu jeitinho simples, atencioso e comunicativo facilitou-lhe a vida.
Aos poucos foi se ajustando e ganhando simpatia. Não foi tão difícil achegar-se a duas garotas da sua classe, Chris e Letícia, tão diferentes no estilo e tão companheiras em tudo; não se largavam por nada, era até bonito de se ver.
Chris é estilosa, antenada na moda, unhas compridas e sempre pintadas, cabelo loiro mexado; Letícia, por sua vez, descolada e displicente, não aposenta as calcas de moleton, largas e confortáveis e o tênis já gasto, mas inseparável. Adora jogar futebol com os meninos e é craque na defesa, não deixa bola nenhuma passar.
As três se juntaram na amizade, nas confidências e nos segredinhos.
Era segunda-feira e Juliana chegou à escola amuada, ausente, olhos fundos de quem não dormiu nada e chorou muito.
Confidenciou às amigas que não sabia o que estava acontecendo com seu namorado Pedro. Durante toda semana ele não atendeu suas ligações, deixara vários recados na caixa postal e nenhum foi retornado, mandara emails e nada; no sábado, sem avisá-lo, foi até sua casa. Tinha certeza que ele estava lá e não quis nem vê-la.
A semana toda foi assim e Juliana definhava na sua tristeza, era a imagem da Madona chorando a ausência do Menino Jesus arrancado de seus braços.
Chris e Letícia eram garotas de atitude e iam correr atrás do prejuízo. Mexeram e remexeram na mochila de Juliana e encontraram o que queriam: o endereço de Pedro.
No sábado seguinte, de manhã, estavam as duas em frente ao número 442, na rua Aymorés, endereço do tal Pedro. O rapaz ainda estava dormindo, foi pego de surpresa e não teve tempo pra fugir.
Na cara dura, foi chamado de covarde e moleque; Juliana merecia ao menos uma explicação pelo seu afastamento, uma menina de ouro não merecia passar por aquela humilhação.
Pedro ouviu calado gatos e bugalhos, ouviu o que queria e o que não queria; não ousou nem esboçou qualquer reação, porque viu que as duas garotas eram fogo.
Quando deixaram o rapaz abrir a boca, ele contou que estivera duas vezes nos portões do colégio pra fazer surpresa a Juliana e, nas duas vezes, viu sua namorada acompanhada de um rapaz alto, forte, boa pinta; pareciam tão íntimos, felizes, rindo com facilidade. Sentiu-se traído e louco de ciúmes. Decidiu afastar-se dela, apesar do amor intenso que o queimava por dentro. Estava fazendo de tudo para esquecê-la.
À medida que Pedro ia contando, Letícia e Chris se entreolhavam com ar malandro, riso apertado entre os lábios que, num dado momento, explodiu numa gargalhada debochada.
__O garoto é nosso amigo. E jamais haveria qualquer interesse entre eles, além de uma amizade verdadeira. O Paolo é gay assumido e aceito numa boa pelo grupo.
Pedro morreu de vergonha. Não queria nem podia acreditar na tolice que fizera. E o arrrpendimento, então? O quanto era infantil...
Como dizem os mais velhos, "há males que vem pro bem" e são as lições da vida que nos trazem amadurecimento.
Os três tomaram o primeiro ônibus, Pedro desceu perto da casa de Juliana.
Não havia tempo a perder...Mil perdões, mil provas de amor, se necessário fosse...
Juliana era a sua princesa, uma jóia valiosa e ele sabia como era difícil viver sem ela.
(Texto criado a partir da leitura de duas gravuras)
Criação: Hirtis
segunda-feira, 7 de março de 2011
A lenda do whisky
"JÙPITER"
Júpiter, o mais poderoso deus romano, " Senhor do Universo", andava contrariadíssimo.
Um passarinho cochichou aos seus ouvidos que o grego Dionísio, deus do vinho, desenvolvia uma pesquisa com cereais, em especial com a cevada, no intuito de produzir uma nova bebida, tão nobre quanto o vinho e que viesse revolucionar usos e costumes da civilização grega.
Júpiter era o pai de Baco, também deus do vinho. Ele não podia imaginar seu filho passado pra trás.
Nessa época, o Império Romano expandia-se numa velocidade sem igual; terras e mais terras eram conquistadas e reis destronados. O boato era que o próximo alvo seria a Grécia Antiga. Antes que fosse tomada e destruída pelo exército romano, Júpiter teria que chegar ao laboratório onde Dionísio desenvolvia suas pesquisas e apoderar-se delas.
Procurou Minerva, a deusa da Inteligência e Sabedoria, e juntos traçaram um plano.
Disfarçado num ateniense nascido em solo da pólis, livre e portador de direitos inquestionáveis, chegou a Atenas acompanhado de Vênus, a essência da beleza feminina.
Ludibriou os seguranças gregos e atingiu o monte Olimpo, morada de Zeus, divindade suprema do panteão grego. Vênus se aproveitaria da fama que tinha Zeus: "o deus de muitas paixões", para seduzi-lo
Zeus sempre usou seus artifícios de sedução e nunca resistiu aos encantos femininos. E não foi diferente quando conheceu Vênus. Encantou-se tanto...perdeu a razão. Ela, cordata e submissa, aceitou o convite de acompanhá-lo aos seus aposentos, onde certamente viveriam uma noite de amor.
Na ante-sala uma surpresa: flores, frutas, as mais raras, e muito vinho, servido em finos cristais; cortinas alvas desciam do teto ao chão brincando em ondas provocadas por brisa que vinha do jardim; um perfume amadeirado compunha o aposento real. Um clima inebriante.
Zeus não economizava, bebia vinho numa sequência ininterrupta. Vênus fingia acompanhá-lo. Palavras de amor... de carinho...
Num instante de distração, Vênus colocou uma pequena porção de pó branco numa taça que logo se desmanchou no vinho e serviu-a ao amante descuidado. Isso o deixou leve e solto, tão solto quanto uma pipa que o vento leva pra onde quiser. Zeus já não oferecia resistência alguma e facilmente Vênus conseguiu descobrir o que queria: o local exato do laboratório de Dionísio.
Tão logo Zeus adormeceu, Vênus e Júpiter se apossaram daquilo que buscavam e antes que o dia amanhecesse já estavam em território romano, bem próximo a Roma.
Baco passou dias e dias analisando detalhadamente uma quantidade grande de páginas que compunham a pesquisa do deus grego, até que conseguiu finalmente chegar a uma fórmula utilizando cereais maltados. E com esta fórmula produziu uma bebida que foi acondicionada em tonéis de carvalho amadeirado.
E assim surgiu o WHISKY, bebida que encanta e embriaga homens e mulheres até os dias atuais.
(Texto criado por Hirtis)
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Paixão adolescente
Rita trabalhava como vendedora na loja de calçados de Seu Antero. Seu pai caíra de um andaime de uma casa em construção e por conta de uma fratura no tornozelo direito ficaria imobilizado por meses. O dinheiro que recebia do INSS - seguro saúde - não dava pra chegar nem até o meio do mês. A família era grande, o casal mais cinco filhos. Coube a Rita a mais velha, com dezesseis anos, socorrer financeiramente a família. O sacrifício era grande, teve que parar com os estudos, mas não havia outro jeito.
Rita tinha saído pouquíssimas vezes do bairro onde morava. Sua vidinha era bem simples: escola e tarefas domésticas.
Agora saía cedinho de casa, tomava o ônibus 27 e descia bem próxima do trabalho. Durante o percurso que durava quase uma hora, pela janela de vidro quebrado ia assistindo a cidade grande acordar: as pessoas indo e vindo apressadas, carros e ônibus disputando espaço na avenida, pontos de ônibus apinhados de trabalhadores e estudantes, guardas de trânsito e seus apitos em franca atividade nos cruzamentos; as lojas todas ainda fechadas, só a padaria "Pão Nosso", nesse horário, já tinha as portas abertas; pãozinho francês (que não vem da França) com manteiga não pode faltar no café da manhã nem do mais simples trabalhador.
Rita era esforçada e logo "pegou o jeito" no atendimento aos clientes. A necessidade do trabalho era tanta...não havia lugar para erros, só para acertos. O salário no final do mês era o único pro pagamento das compras no mercado.
Lidar com o público requer muita paciência, o que não lhe faltava nem quando atendia aquele cliente indeciso que nem sabe o que quer comprar. Quantas vezes tirava pares e mais pares de sapatos, as caixas se acumulando em pilhas e, como o estoque ficava no piso superior, haja pernas pra subir e descer tantos degraus... tantas vezes...E são essas pessoas que deixam a loja sem levar nada. Lá se foi o tempo perdido e a comissão não ganha.
Joana também trabalhava na loja e as duas tornaram-se amigas tão logo se conheceram, essas coisas de empatia a primeira vista.
Joana sempre fazia comentários sobre a padaria "Nosso Pão". Morou bastante tempo numa casa em frente e conhecia a família dos proprietários. Seu Manoel, um português bigodudo e severo, chegou de Portugal com Dona Rosália, ainda bem jovens, fugindo dos estragos que as guerras causaram no continente europeu. Chegaram com a cara e a coragem e já decididos em
montar o negócio. Tudo foi feito com muito zelo como manda o figurino, conforme dizia minha avó. As paredes todas revestidas com azulejo português nas cores branca e azul, um espaço não coberto reservado às plantas, o "dengo" de Dona Rosália. Depois de pronta, a obra primava pela ordem e higiene. Numa prateleira, acima do caixa, pra que todos os clientes pudessem ver, não podia faltar o tal do galinho português. Sobre o balcão algumas cestas de formatos diferentes, recheadas de pãezinhos e bolachinhas ficavam cobertas com toalhinhas feitas com tule e arrematadas com renda fininha, proteção contra moscas e abelhas, que chegam atraídas pelo adocicado das guloseimas. De vez em quando, uma abelha ou uma mosca mais atrevida, na tentativa de furar o bloqueio, ficava entalada...e só na vontade...Dona Rosália fazia questão de trocar essas toalhinhas diariamente, marca registrada da sua padaria.
O sucesso maior da padaria estava na variedade de bolachinhas preparadas artesanalmente por Dona Rosália, com receitas trazidas de Trás-os-Montes, segredo de família guardado a sete chaves, como ela costumava dizer quando algum cliente novato questionava sobre os ingredientes.
Joana falava tanto nas tais bolachinhas que, num dia desses, Rita desceu no ponto da padaria; queria levar algumas pra casa.
Naquele dia e nos outros também, Rita não conseguia tirar da cabeça aquele rapaz charmoso, de cabelos bem pretos já mesclados com fios brancos, que a atendeu no caixa. Era Arnaldo, o filho mais velho de Seu Manoel.
Na ida e na volta do trabalho, assim que o ônibus se aproximava da padaria, Rita espichava o pescoço tal qual girafa querendo apanhar a última fruta da macieira e até torcicolo ganhou nessas empreitadas. Quando o trânsito estava mais lento, conseguia ver Arnaldo por alguns minutos a mais; era o suficiente pra ficar feliz. Voltou à padaria muitas outras vezes, só no intuito de vê-lo e trocar aquelas mesmas palavras que todos falam com o caixa de um estabelecimento. Quando lhe vinha a coragem, arriscava falar sobre o tempo, o calor, a chuva. Só isso...
À medida que os dias passavam, o sentimento só aumentava. Não contava a ninguém, nem à Joana. Sentimentos contraditóios degladiavam-se no seu íntimo: ora queria contar tudo a ele, não importava a diferença de idade: ora a ideia da rejeição a atormentava. Sofria solitária a sua dor.
Num dia qualquer, voltando do trabalho, numa atitude nada programada, desceu do ônibus e, no trajeto que percorreu entre o ponto de ônibus e o estabelecimento, decidiu enfrentar a situação. Contaria tudo ao Arnaldo. Vou enfrentar, não aguento mais viver agoniada desse jeito.
Entrou na padaria, escolheu um punhado qualquer de bolachinhas; ao acertar as contas no caixa, foi atendida pela irmã de Arnaldo.
Sem querer, mas querendo muito, perguntou por ele. Assim que ouviu a resposta, sentiu imediatamente um forte zumbido no ouvido, a cabeça rodou feito pião, a vista escureceu, não viu mais nada.
Acordou no P.S., sua mãe ao lado, com diagnóstico de queda de pressão e cansaço.
Somente ela e mais ninguém saberia o verdadeiro motivo daquele desmaio; uma resposta que a acompanhou por um longo período de sua vida:
__"Arnaldo tirou férias e viajou com a esposa e o filhinho."
montar o negócio.
Rita tinha saído pouquíssimas vezes do bairro onde morava. Sua vidinha era bem simples: escola e tarefas domésticas.
Agora saía cedinho de casa, tomava o ônibus 27 e descia bem próxima do trabalho. Durante o percurso que durava quase uma hora, pela janela de vidro quebrado ia assistindo a cidade grande acordar: as pessoas indo e vindo apressadas, carros e ônibus disputando espaço na avenida, pontos de ônibus apinhados de trabalhadores e estudantes, guardas de trânsito e seus apitos em franca atividade nos cruzamentos; as lojas todas ainda fechadas, só a padaria "Pão Nosso", nesse horário, já tinha as portas abertas; pãozinho francês (que não vem da França) com manteiga não pode faltar no café da manhã nem do mais simples trabalhador.
Rita era esforçada e logo "pegou o jeito" no atendimento aos clientes. A necessidade do trabalho era tanta...não havia lugar para erros, só para acertos. O salário no final do mês era o único pro pagamento das compras no mercado.
Lidar com o público requer muita paciência, o que não lhe faltava nem quando atendia aquele cliente indeciso que nem sabe o que quer comprar. Quantas vezes tirava pares e mais pares de sapatos, as caixas se acumulando em pilhas e, como o estoque ficava no piso superior, haja pernas pra subir e descer tantos degraus... tantas vezes...E são essas pessoas que deixam a loja sem levar nada. Lá se foi o tempo perdido e a comissão não ganha.
Joana também trabalhava na loja e as duas tornaram-se amigas tão logo se conheceram, essas coisas de empatia a primeira vista.
Joana sempre fazia comentários sobre a padaria "Nosso Pão". Morou bastante tempo numa casa em frente e conhecia a família dos proprietários. Seu Manoel, um português bigodudo e severo, chegou de Portugal com Dona Rosália, ainda bem jovens, fugindo dos estragos que as guerras causaram no continente europeu. Chegaram com a cara e a coragem e já decididos em
montar o negócio. Tudo foi feito com muito zelo como manda o figurino, conforme dizia minha avó. As paredes todas revestidas com azulejo português nas cores branca e azul, um espaço não coberto reservado às plantas, o "dengo" de Dona Rosália. Depois de pronta, a obra primava pela ordem e higiene. Numa prateleira, acima do caixa, pra que todos os clientes pudessem ver, não podia faltar o tal do galinho português. Sobre o balcão algumas cestas de formatos diferentes, recheadas de pãezinhos e bolachinhas ficavam cobertas com toalhinhas feitas com tule e arrematadas com renda fininha, proteção contra moscas e abelhas, que chegam atraídas pelo adocicado das guloseimas. De vez em quando, uma abelha ou uma mosca mais atrevida, na tentativa de furar o bloqueio, ficava entalada...e só na vontade...Dona Rosália fazia questão de trocar essas toalhinhas diariamente, marca registrada da sua padaria.
O sucesso maior da padaria estava na variedade de bolachinhas preparadas artesanalmente por Dona Rosália, com receitas trazidas de Trás-os-Montes, segredo de família guardado a sete chaves, como ela costumava dizer quando algum cliente novato questionava sobre os ingredientes.
Joana falava tanto nas tais bolachinhas que, num dia desses, Rita desceu no ponto da padaria; queria levar algumas pra casa.
Naquele dia e nos outros também, Rita não conseguia tirar da cabeça aquele rapaz charmoso, de cabelos bem pretos já mesclados com fios brancos, que a atendeu no caixa. Era Arnaldo, o filho mais velho de Seu Manoel.
Na ida e na volta do trabalho, assim que o ônibus se aproximava da padaria, Rita espichava o pescoço tal qual girafa querendo apanhar a última fruta da macieira e até torcicolo ganhou nessas empreitadas. Quando o trânsito estava mais lento, conseguia ver Arnaldo por alguns minutos a mais; era o suficiente pra ficar feliz. Voltou à padaria muitas outras vezes, só no intuito de vê-lo e trocar aquelas mesmas palavras que todos falam com o caixa de um estabelecimento. Quando lhe vinha a coragem, arriscava falar sobre o tempo, o calor, a chuva. Só isso...
À medida que os dias passavam, o sentimento só aumentava. Não contava a ninguém, nem à Joana. Sentimentos contraditóios degladiavam-se no seu íntimo: ora queria contar tudo a ele, não importava a diferença de idade: ora a ideia da rejeição a atormentava. Sofria solitária a sua dor.
Num dia qualquer, voltando do trabalho, numa atitude nada programada, desceu do ônibus e, no trajeto que percorreu entre o ponto de ônibus e o estabelecimento, decidiu enfrentar a situação. Contaria tudo ao Arnaldo. Vou enfrentar, não aguento mais viver agoniada desse jeito.
Entrou na padaria, escolheu um punhado qualquer de bolachinhas; ao acertar as contas no caixa, foi atendida pela irmã de Arnaldo.
Sem querer, mas querendo muito, perguntou por ele. Assim que ouviu a resposta, sentiu imediatamente um forte zumbido no ouvido, a cabeça rodou feito pião, a vista escureceu, não viu mais nada.
Acordou no P.S., sua mãe ao lado, com diagnóstico de queda de pressão e cansaço.
Somente ela e mais ninguém saberia o verdadeiro motivo daquele desmaio; uma resposta que a acompanhou por um longo período de sua vida:
__"Arnaldo tirou férias e viajou com a esposa e o filhinho."
montar o negócio.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Sininho deu-nos um grande susto
A Fada Sininho não sai mais da frente do seu computador, desde que os avanços tecnológicos chegaram à "Terra do Nunca". Está fascinada com as possibilidades que a Internet proporciona. Ela nunca se afastara de sua terrinha. Descobriu que num simples "clicar" pode viajar por esse mundo afora tão grande e tão diversificado. Da agitação desenfreada das cidades cosmopolitas, onde pessoas e veículos vêm e vão numa grande confusão, pode-se chegar às regiões africanas onde o sol impiedoso castiga o lombo de animais obedientes que transportam pessoas e cargas; pode-se conhecer mananciais preservados onde rios caudalosos, livres e sem pressa ziguezagueiam entre o verdume de vegetação intata, como cobras que se arrastam despreocupadas por vales que conhecem de cor e salteado.
Num dia desses, explorando outras possibilidades que o mundo virtual oferece, entrou sem querer numa sala de bate-papo. Ficou observando como os frequentadores da sala interagiam, trocando informações, fazendo amizades e até combinando encontros.
Uma luzinha acendeu dentro daquela cabecinha travessa e iluminou um letreiro que estivera até então apagado; diante de olhinhos assustados apareceu a palavra "namorar". Como já sabemos, Sininho sempre foi a fiel companheira de Peter Pan e platonicamente apaixonada por ele, mas consciente da impossibilidade desse amor.
Ela franziu a testa num gesto de gente que está pensando, os olhos brilharam mais do que já brilham, um sorriso largo e maroto abriu-se em seu rosto de "cabo a rabo". Foi o caminho de um pensamento novo que brotou num cantinho escondido de seu cérebro, chegou aos lábios e saiu nos sons que compõem a palavra "AMOR". Isso mesmo. Uma janelinha de possibilidades abriu-se para Sininho.
Com os dedinhos ainda trêmulos e inseguros entrou na sala de bate-papo pela primeira vez. Foi conquistando coragem, confiança e entrou finalmente nas conversas. Conheceu e conversou com muita gente, mas seu interesse foi-se direcionando cada vez mais para o Toby. O Toby era simpático, animado e contava coisas maravilhosas do lugar onde vivia. Estava permanentemente em contato com a natureza; sua missão era cuidar das plantas, flores e animais. Toby era um DUENDE.
A amizade foi virando paixão, tamanha a afinidade que havia entre os dois. Sininho nem se alimentava mais direito, contava os segundos pra se encontrar virtualmente com ele. Toby já era dono de seu coração e Sininho era dona do coração de Toby.
Tudo isso provocava uma grande confusão nos sentimentos de Sininho: era uma mistura de alegria com sofrimento, de felicidade com medo. Não entendia nada dessas emoções tão conflitantes. Mas o dia chegou:
__Estou apaixonada por você, Toby. (um peso saiu de sua alma).
Toby aguardava essa declaração. Cauteloso não queria precipitar, nada de pressão. Queria que ela descobrisse sozinha.
Tudo corria em segredo entre os dois. Aguardavam o momento certo pra torná-lo público. A grande dúvida ainda era: Sininho iria pro reino dos Duendes ou Toby viria à Terra do Nunca?
Amanheceu na Terra do Nunca. Peter Pan aparece esbaforido e preocupadíssimo. Deu um grito tão forte e alto que se espalhou pra todos os lados:
__Sinnho desapareceu! Acho que foi raptada! Sua varinha mágica encontrei-a jogada ao chão. Ela jamais se separaria dela...
Os meninos perdidos, o capitão Gancho e os animais todos foram chegando. Muitas perguntas, nenhuma resposta, correria pra todos os lados num vai-e-vem descontrolado, aves voando sem direção e se chocando no ar, sugestões, opiniões desencontradas...
Peter Pan permanecia imóvel e mudo. Não podia perder o controle, teria que gerir aquela situação. Planos foram traçados e combinados; todos vão ajudar na busca e em grupos se dispersam, cada canto terá que ser revirado de ponta cabeça, a Terra do Nunca não é tão grande assim...
O tempo vai passando...Não aparece nenhuma notícia. A noite de mansinho chega e a lua cheia oferece ajuda e brilha mais que nos outros dias alumiando tudo por dentro e por fora.
Aos poucos retornam todos ao ponto de partida, calados, desanimados, desconsolados. Tentam disfarçar, mas ouve-se um choro miúdo aqui, outro mais forte ali, soluços... Ninguém consegue mais segurar aquela dor...
Peter Pan não desistiu da busca. Não conseguia imaginar a Terra do Nunca sem Sininho. Lembrou-se então que ultimamente a Fadinha andava preocupada demais com a preservação da natureza e falava muito em flores.
Uma ideia! Quem sabe?
Numa corria desenfreada chegou ao canteiro mais florido e preferido de Sininho. Caminhou cuidadosamente por entre as flores e...parece ter ouvido um som quase silencioso. Peter Pan pôs-se todo em atenção. Era o arfar da respiração de alguém que dorme o sono dos justos.
Foi-se aproximando sem se fazer ouvir, abriu as pétalas de uma flor amarelo-ouro e lá estava Sininho, como um anjo nos braços de Orfeu. Tocou-a delicadamente. Sininho foi acordando aos pouquinhos e assim que abriu os olhos e reconheceu Peter Pan despejou uma série de palavras desconexas:
__Computador...Toby...Internet...Duende...
Estava claro. Sininho tivera um pesadelo. Na Terra do Nunca ninguém jamais ouvira tais palavras
Num dia desses, explorando outras possibilidades que o mundo virtual oferece, entrou sem querer numa sala de bate-papo. Ficou observando como os frequentadores da sala interagiam, trocando informações, fazendo amizades e até combinando encontros.
Uma luzinha acendeu dentro daquela cabecinha travessa e iluminou um letreiro que estivera até então apagado; diante de olhinhos assustados apareceu a palavra "namorar". Como já sabemos, Sininho sempre foi a fiel companheira de Peter Pan e platonicamente apaixonada por ele, mas consciente da impossibilidade desse amor.
Ela franziu a testa num gesto de gente que está pensando, os olhos brilharam mais do que já brilham, um sorriso largo e maroto abriu-se em seu rosto de "cabo a rabo". Foi o caminho de um pensamento novo que brotou num cantinho escondido de seu cérebro, chegou aos lábios e saiu nos sons que compõem a palavra "AMOR". Isso mesmo. Uma janelinha de possibilidades abriu-se para Sininho.
Com os dedinhos ainda trêmulos e inseguros entrou na sala de bate-papo pela primeira vez. Foi conquistando coragem, confiança e entrou finalmente nas conversas. Conheceu e conversou com muita gente, mas seu interesse foi-se direcionando cada vez mais para o Toby. O Toby era simpático, animado e contava coisas maravilhosas do lugar onde vivia. Estava permanentemente em contato com a natureza; sua missão era cuidar das plantas, flores e animais. Toby era um DUENDE.
A amizade foi virando paixão, tamanha a afinidade que havia entre os dois. Sininho nem se alimentava mais direito, contava os segundos pra se encontrar virtualmente com ele. Toby já era dono de seu coração e Sininho era dona do coração de Toby.
Tudo isso provocava uma grande confusão nos sentimentos de Sininho: era uma mistura de alegria com sofrimento, de felicidade com medo. Não entendia nada dessas emoções tão conflitantes. Mas o dia chegou:
__Estou apaixonada por você, Toby. (um peso saiu de sua alma).
Toby aguardava essa declaração. Cauteloso não queria precipitar, nada de pressão. Queria que ela descobrisse sozinha.
Tudo corria em segredo entre os dois. Aguardavam o momento certo pra torná-lo público. A grande dúvida ainda era: Sininho iria pro reino dos Duendes ou Toby viria à Terra do Nunca?
Amanheceu na Terra do Nunca. Peter Pan aparece esbaforido e preocupadíssimo. Deu um grito tão forte e alto que se espalhou pra todos os lados:
__Sinnho desapareceu! Acho que foi raptada! Sua varinha mágica encontrei-a jogada ao chão. Ela jamais se separaria dela...
Os meninos perdidos, o capitão Gancho e os animais todos foram chegando. Muitas perguntas, nenhuma resposta, correria pra todos os lados num vai-e-vem descontrolado, aves voando sem direção e se chocando no ar, sugestões, opiniões desencontradas...
Peter Pan permanecia imóvel e mudo. Não podia perder o controle, teria que gerir aquela situação. Planos foram traçados e combinados; todos vão ajudar na busca e em grupos se dispersam, cada canto terá que ser revirado de ponta cabeça, a Terra do Nunca não é tão grande assim...
O tempo vai passando...Não aparece nenhuma notícia. A noite de mansinho chega e a lua cheia oferece ajuda e brilha mais que nos outros dias alumiando tudo por dentro e por fora.
Aos poucos retornam todos ao ponto de partida, calados, desanimados, desconsolados. Tentam disfarçar, mas ouve-se um choro miúdo aqui, outro mais forte ali, soluços... Ninguém consegue mais segurar aquela dor...
Peter Pan não desistiu da busca. Não conseguia imaginar a Terra do Nunca sem Sininho. Lembrou-se então que ultimamente a Fadinha andava preocupada demais com a preservação da natureza e falava muito em flores.
Uma ideia! Quem sabe?
Numa corria desenfreada chegou ao canteiro mais florido e preferido de Sininho. Caminhou cuidadosamente por entre as flores e...parece ter ouvido um som quase silencioso. Peter Pan pôs-se todo em atenção. Era o arfar da respiração de alguém que dorme o sono dos justos.
Foi-se aproximando sem se fazer ouvir, abriu as pétalas de uma flor amarelo-ouro e lá estava Sininho, como um anjo nos braços de Orfeu. Tocou-a delicadamente. Sininho foi acordando aos pouquinhos e assim que abriu os olhos e reconheceu Peter Pan despejou uma série de palavras desconexas:
__Computador...Toby...Internet...Duende...
Estava claro. Sininho tivera um pesadelo. Na Terra do Nunca ninguém jamais ouvira tais palavras
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
O primeiro beijo
Júlia estava no primeiro ano do curso colegial e era diferente das meninas de sua turma.
Enquanto suas coleguinhas ja haviam "ficado" com garotos vários nas festinhas e baladas, beijado na boca e algumas até namorando firme, ela se preocupava mesmo era com seus estudos. Ouvia sua mãe dizer sempre que a mulher, antes de qualquer coisa, deve se esforçar e conquistar uma profissão e que as outras coisas vêm naturalmente.
Júlia gostava de ler clássicos da literatura, assistir a filmes "cults" e concertos, hábitos pouco comuns à juventude atual. E assim ia ganhando conhecimentos e cultura, o que a distanciava cada vez mais de suas colegas. O importante é que nem por isso deixava de ser uma jovem simples e solícita quando requisitada pra ajudar quem quer que fosse nas tarefas escolares.
A natação também fazia parte da sua vida e desde pequenina seus pais já perceberam quanto a água a atraía. Na praia ou na piscina, não se podia descuidar da Julinha. Era um perigo... A prática assídua desse esporte garantiu-lhe um corpo saudável e formas perfeitas.
Semana Cultural no colégio; a semana toda dedicada a palestras, filmes, campeonatos e competições.
Júlia saía apressada da sala de palestras quando trombou com um rapaz alto, bonitão, porte atlético.E pra que ela não se esborrachasse no chão, Eduardo, esse era o seu nome, enlaçou-a fortemente pela cintura e num movimento rápido e brusco trouxe seu corpo pra junto do seu, corações pulsando juntos e disparados, olhos nos olhos e, aos poucos, uma boca grudada na outra boca. No início um susto, depois um frio que começou na barriga, percorreu o corpo todo e gelou as mãos, que transpiravam feito bolinhas. Um momento único... e que transformou a vida daquela garota: o primeiro contato masculino, o abraço que sufoca, mas que se quer sufocar e o primeiro beijo, aquele beijo que faz a gente perder o fôlego.
O primeiro grande amor de Júlia, aquele que fica pra sempre.
(trabalho sugerido: criar um conto descritivo do primeiro beijo de dois adolescentes)
Autora do texto: Hirtis
Enquanto suas coleguinhas ja haviam "ficado" com garotos vários nas festinhas e baladas, beijado na boca e algumas até namorando firme, ela se preocupava mesmo era com seus estudos. Ouvia sua mãe dizer sempre que a mulher, antes de qualquer coisa, deve se esforçar e conquistar uma profissão e que as outras coisas vêm naturalmente.
Júlia gostava de ler clássicos da literatura, assistir a filmes "cults" e concertos, hábitos pouco comuns à juventude atual. E assim ia ganhando conhecimentos e cultura, o que a distanciava cada vez mais de suas colegas. O importante é que nem por isso deixava de ser uma jovem simples e solícita quando requisitada pra ajudar quem quer que fosse nas tarefas escolares.
A natação também fazia parte da sua vida e desde pequenina seus pais já perceberam quanto a água a atraía. Na praia ou na piscina, não se podia descuidar da Julinha. Era um perigo... A prática assídua desse esporte garantiu-lhe um corpo saudável e formas perfeitas.
Semana Cultural no colégio; a semana toda dedicada a palestras, filmes, campeonatos e competições.
Júlia saía apressada da sala de palestras quando trombou com um rapaz alto, bonitão, porte atlético.E pra que ela não se esborrachasse no chão, Eduardo, esse era o seu nome, enlaçou-a fortemente pela cintura e num movimento rápido e brusco trouxe seu corpo pra junto do seu, corações pulsando juntos e disparados, olhos nos olhos e, aos poucos, uma boca grudada na outra boca. No início um susto, depois um frio que começou na barriga, percorreu o corpo todo e gelou as mãos, que transpiravam feito bolinhas. Um momento único... e que transformou a vida daquela garota: o primeiro contato masculino, o abraço que sufoca, mas que se quer sufocar e o primeiro beijo, aquele beijo que faz a gente perder o fôlego.
O primeiro grande amor de Júlia, aquele que fica pra sempre.
(trabalho sugerido: criar um conto descritivo do primeiro beijo de dois adolescentes)
Autora do texto: Hirtis
É isso aí...
Era uma casa
bem diferente
não tinha ordem
mas tinha gente.
De noite ou de dia
era muita confusão.
Só eles entendiam
tamanha ebulição.
Sodoma e Gomorra
não eram páreo, não.
Um chegava,
outro saía.
Um rezava,
outro gemia.
Um almoçava,
outro bebia.
Um chorava,
outro só ria.
Um acordava,
outro dormia.
Um saltava,
outro já caía.
Um estudava,
outro escrevia.
Um sonhava,
outro vivia.
Uma gata sonada
não tava nem aí
vivia enfurnada
tal qual nem-te-vi.
Num dia qualquer
chegou de fuscão
o mestre Pierre
cacete na mão.
Saltando faíscas
parecia um dragão
berrando bem alto
que confusão!
Cinco pularam a janela.
Dez se arrastaram no chão.
Uns saíram da panela.
E outros do caldeirão.
A gata miou.
A gente fugiu.
A paz levantou
a tampa do barril.
Lá dentro encontrou
o último dos mil.
Era uma casa
bem diferente.
Não tinha mais nada
nem tinha gente...
Texto infantil
Autora: Hirtis
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