quarta-feira, 16 de março de 2011

Ver e não Crer

     A família de Juliana teve que deixar a casa no bairro Paraíso, onde moravam desde o nascimento da menina.  O aluguel estava caro demais por conta da especulação imobiliária que atingiu todo o país.  Conseguiram uma casa num valor acessível  e se transferiram para o Jabaquara.
     Juliana foi a que mais sentiu a mudança: deixou a casa onde crescera, a escola, a turma e o namorado.  Mas o que fazer?  Circunstâncias da vida.
    No começo sentia-se um peixe fora d'água no colégio novo, pois é sabido que os adolescentes costumam hostilizar gente nova no pedaço.  Mas seu jeitinho simples, atencioso e comunicativo facilitou-lhe a vida.
     Aos poucos foi se ajustando e ganhando simpatia.  Não foi tão difícil achegar-se a duas garotas da sua classe, Chris e Letícia, tão diferentes no estilo e tão companheiras em tudo; não se largavam por nada, era até bonito de se ver.
     Chris é estilosa, antenada na moda, unhas compridas e sempre pintadas, cabelo loiro mexado; Letícia, por sua vez, descolada e displicente, não aposenta as calcas de moleton, largas e confortáveis e o tênis já gasto, mas inseparável.  Adora jogar futebol com os meninos e é craque na defesa, não deixa bola nenhuma passar.
     As três se juntaram na amizade, nas confidências e nos segredinhos.
     Era segunda-feira e Juliana chegou à escola amuada, ausente, olhos fundos de quem não dormiu nada e chorou muito.
     Confidenciou às amigas que não sabia o que estava acontecendo com seu namorado Pedro.  Durante toda semana ele não atendeu suas ligações, deixara vários recados na caixa postal e nenhum foi retornado, mandara emails e nada;  no sábado, sem avisá-lo, foi até sua casa.  Tinha certeza que ele estava lá e não quis nem vê-la.
     A semana toda foi assim e Juliana definhava na sua tristeza, era a imagem da Madona chorando a ausência do Menino Jesus arrancado de seus braços.
     Chris e Letícia eram garotas de atitude e iam correr atrás do prejuízo.  Mexeram e remexeram na mochila de Juliana e encontraram o que queriam: o endereço de Pedro.
     No sábado seguinte, de manhã, estavam as duas em frente ao número 442, na rua Aymorés,  endereço do tal Pedro.  O rapaz ainda estava dormindo, foi pego de surpresa e não teve tempo pra fugir.
     Na cara dura, foi chamado de covarde e moleque; Juliana merecia ao menos uma explicação pelo seu afastamento, uma menina de ouro não merecia passar por aquela humilhação.
     Pedro ouviu calado gatos e bugalhos, ouviu o que queria e o que não queria;  não ousou nem esboçou qualquer reação, porque viu que as duas garotas eram fogo.
    Quando deixaram o rapaz abrir a boca, ele contou que estivera duas vezes nos portões do colégio pra fazer surpresa a Juliana e, nas duas vezes, viu sua namorada acompanhada de um rapaz alto, forte, boa pinta;  pareciam tão íntimos, felizes, rindo com facilidade.  Sentiu-se traído e louco de ciúmes.  Decidiu afastar-se dela, apesar do amor intenso que o queimava por dentro.  Estava fazendo de tudo para esquecê-la.
     À medida que Pedro ia contando, Letícia e Chris se entreolhavam com ar malandro, riso apertado entre os lábios que, num dado momento, explodiu numa gargalhada debochada. 
     __O garoto é  nosso amigo.  E jamais haveria qualquer interesse entre eles, além de uma amizade verdadeira.  O Paolo é gay assumido e aceito numa boa pelo grupo.
     Pedro morreu de vergonha.  Não queria nem podia acreditar na tolice que fizera.  E o arrrpendimento, então?  O quanto era infantil...
     Como dizem os mais velhos, "há males que vem pro bem" e são as lições da vida que nos trazem amadurecimento.
     Os três tomaram o primeiro ônibus, Pedro desceu perto da casa de Juliana. 
     Não havia tempo a perder...Mil perdões, mil provas de amor, se necessário fosse...
     Juliana era a sua princesa, uma jóia valiosa e ele sabia como era difícil viver sem ela.
     

(Texto criado a partir da leitura de duas gravuras)
 Criação:  Hirtis
    

segunda-feira, 7 de março de 2011

A lenda do whisky


                             
      "JÙPITER"                                                                                  

     Júpiter, o mais poderoso deus romano, " Senhor do Universo", andava contrariadíssimo.
     Um passarinho cochichou aos seus ouvidos que o grego Dionísio, deus do vinho, desenvolvia uma pesquisa com cereais, em especial com a cevada, no intuito de produzir uma nova bebida, tão nobre quanto o vinho e que viesse revolucionar usos e costumes da civilização grega.
     Júpiter era o pai de Baco, também deus do vinho.  Ele não podia imaginar seu filho passado pra trás.
     Nessa época, o Império Romano expandia-se numa velocidade sem igual; terras e mais terras eram conquistadas e reis destronados.  O boato era que o próximo alvo seria a Grécia Antiga.  Antes que fosse tomada e destruída pelo exército romano, Júpiter teria que chegar ao laboratório onde Dionísio desenvolvia suas pesquisas e apoderar-se delas.
     Procurou Minerva, a deusa da Inteligência e Sabedoria, e juntos traçaram um plano.
     Disfarçado num ateniense nascido em solo da pólis, livre e portador de direitos inquestionáveis, chegou a Atenas acompanhado de Vênus, a essência da beleza feminina.
     Ludibriou os seguranças gregos e atingiu o monte Olimpo, morada de Zeus, divindade suprema do panteão grego.   Vênus se aproveitaria da fama  que tinha Zeus: "o deus de muitas paixões", para seduzi-lo                                                                            
     Zeus sempre usou seus artifícios de sedução e nunca resistiu aos encantos femininos.  E não foi diferente quando conheceu Vênus.  Encantou-se tanto...perdeu a razão.  Ela, cordata e submissa, aceitou o convite de acompanhá-lo aos seus aposentos, onde certamente viveriam uma  noite de amor.
     Na ante-sala uma surpresa: flores, frutas, as mais raras, e muito vinho, servido em finos cristais; cortinas alvas desciam do teto ao chão brincando em ondas provocadas por brisa que vinha do jardim; um perfume amadeirado compunha o aposento real. Um clima inebriante.
     Zeus não economizava, bebia vinho numa sequência ininterrupta.  Vênus fingia acompanhá-lo.  Palavras de amor... de carinho...
     Num instante de distração, Vênus colocou uma pequena porção de pó branco numa taça que logo se desmanchou no vinho e serviu-a ao amante descuidado.  Isso o deixou leve e solto, tão solto quanto uma pipa que o vento leva pra onde quiser.  Zeus já não oferecia resistência alguma e facilmente Vênus conseguiu descobrir o que queria: o local exato do laboratório de Dionísio.
     Tão logo Zeus adormeceu, Vênus e Júpiter se apossaram daquilo que buscavam e antes que o dia amanhecesse já estavam em território romano, bem próximo a Roma.
     Baco passou dias e dias analisando detalhadamente uma quantidade grande de páginas que compunham a pesquisa do deus grego, até que conseguiu finalmente chegar a uma fórmula utilizando cereais maltados. E com esta fórmula produziu uma bebida que foi acondicionada em tonéis de carvalho amadeirado.
     E assim surgiu o WHISKY, bebida que encanta e embriaga homens e mulheres até os dias atuais.


(Texto criado por Hirtis)