sexta-feira, 3 de junho de 2011

Imaginação ou verdade?

     O seleiro José Amaro não voltara pra casa como habitualmente fazia todas as tardinhas.  Procurado por amigos e familiares foi encontrado sem vida debruçado sobre seu tamborete e agarrado ao martelo, sua principal ferramenta de trabalho.
     Que sina a sua!  Fora enterrado sem choro nem comoção.
     Sinhá, sua esposa, lacrou a oficina do jeito que estava e ninguém mais entrou lá.
     A rotina estabeleceu-se facilmente, pois ela e a filha esquisita até agradeciam a morte do seleiro.
     Tudo corria bem até que...
     A noite surgiu estonteante de tão bela.  Estrelas tantas brilhavam como nunca, causando inveja ao bando de vagalumes que teimavam em competir com elas; a lua de tão cheia parecia que ia explodir feito bolha de sabão, a saparia gemia de felicidade e a coruja agarrada ao galho do pessegueiro tomava conta de tudo.
     Sinhá e a filha, sentadas no alpendre, tagarelavam planos, enquanto suas mãos hábeis e ligeiras davam conta das linhas coloridas perpassando no tecido branco e desenhando bordados.
     Ouviram sons estranhos que vinham da cozinha.  Eram marteladas pesadas e ritmadas, iguaizinhas às que o seleiro desferia no couro.
     Agarraram-se e de olhos fechados puseram-se a rezar baixinho...  Voltou o silêncio.  Passo a passo, as duas caminharam até a cozinha e, acreditem, todo o alumínio da casa estava amassado, destruído e atirado ao chão.  A porta continuava trancada e a chave na fechadura intata.  Alma do outro mundo?
     As duas fizeram às escondidas um buraco grande no quintal onde enterraram todas as peças.  O segredo fora guardado.
     O tempo correu e aquela sexta-feira amanheceu diferente: o sol estava encoberto por nuvens negras que foram se ajuntando num bloco só.  O dia virou noite.  Ninguém saiu de casa.  Um vento forte corria veloz e arrancava o que vinha a sua frente; os cães latiam alto formando um coral desafinado de vozes desesperadas.  Granizos enormes estilhaçavam os vidros das janelas e esburacavam telhas de barro.  Lá fora o chão ficou escondido debaixo de um tapete branco e fofo.
     Mas finalmente o sol venceu a batalha.  Parou a chuva, o vento fugiu e o gelo começou a derreter.
     Os moradores, aos pouquinhos foram deixando suas casas pra conferir os estragos.  Mas era estranho...  Cada família que saía, logo retornava e se trancava em casa.
     È que lá fora algo inédito acontecera.  A vila estava irreconhecível.  Panelas, caldeirões, bules.. alúminios esparramavam-se amassados por tudo quanto é canto; até enroscados em galhos de árvores.
     È... não dava mais pra esconder.  A força da tempestade foi tanta que conseguiu reabrir buracos cavados recentemente em cada moradia.
     Todos da vila tinham recebido a visita do "MARTELADOR", destruidor de alumínio.  E todos calaram o bico.
     Sinhá, que não era nem boba, estava desconfiada;  deixou a poeira baixar, criou coragem e foi até a oficina de selas, fechada desde a morte do marido.
     O local abandonado era sinistro.  Uma camada grossa de poeira cobria tudo, aranhas gigantes se arrastavam nas teias artesanalmente entrelaçadas,  ratos espiavam desconfiados e apressados escondiam-se entre as tralhas.  Todas as ferramentas desapareceram das prateleiras.  Sobre o tamborete descansava um MARTELO muito grande, descomunal e, mesmo no escuro, brilhava feito ouro.
     Este fato aconteceu no vilarejo onde meus bisavós moravam que contaram pros meus avós que contaram pro meu pai que contou pra mim.
     Acredito muito na minha família.  Sei que ninguém mente nem inventa histórias.
     Você, acredite se quiser!

(Texto escrito por Hirtis

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HIRIS LAZARIN