Honório e Amélia formavam um casal bonito.
Ele, um advogado criminalista, muito respeitado nos meios jurídicos pela lisura e competência.
Amélia, uma mulher bonita e elegante, vinha de uma família tradicional paulista, os tais "Barões do café", criada com muito luxo e mimo. Felizmente casara com o homem perfeito, capaz de dar continuidade àquela vida de riqueza e conforto.
Não tiveram filhos. E, apesar da intensa vida social que a posição lhes proporcionava, jantares com ilustres, festas, reuniões... a vida caíra na rotina.
Honório trabalhava além da conta e Amélia compensava a solidão nas compras; tornara-se uma consumidora voraz e compulsiva.
Estava no "shopping", numa loja de grife masculina; comprava um presente a Honório; estava chegando o dia de seu aniversário. Encontrou-se ali, por acaso, com Gustavo, amigo da família. Ele estivera fora do Brasil nos últimos cinco anos, presidindo na Inglaterra uma multinacional.
Cavalheiro, de gosto refinado e expert em moda, foi solicitado pra ajudá-la nas compras. Claro, ele não recusou o convite e o bate-papo continuou num café expresso.
Entre um café e um "cupcake" não só os assuntos foram colocados em dia... Surgiu o convite para um novo encontro... Mais outro... E foi assim que Amélia e Gustavo tornaram-se amantes.
Amélia parecia outra mulher; até as ajudantes do dia-a-dia recebiam um novo tratamento. Rejuvenesceu por dentro e por fora. Vivia cantando. Era uma amante de primeira, dentro e fora de casa. Não podia levantar suspeitas.
Honório que não era bobo nem nada, claro, percebeu a transformação. Mas Amélia era cautelosa, sabia manobrar a situação.
Era quinta-feira, uma tarde mais que especial. Gustava voltava de uma viagem de negócios que durou um mês. Trouxera à amante um belíssimo casaco de vison.
O tal casaco, sonho de consumo de muitas mulheres, tornou-se um pesadelo à Amélia. Como levá-lo pra casa? De jeito nenhum. Mentir ao marido que havia comprado, nem pensar. O coitado estava com dívidas atrasadas; os limites dos cartões de crédito foram estourados por ela.
Pintou-lhe uma idéia brilhante: passou na Caixa Econômica Federal e penhorou o casaco. Conseguiu uma boa quantia em dinheiro. Perfeito!
Em casa, convenceu Honório da sua boa intenção: com dor no coração, penhorara aquele conjunto de esmeraldas, relíquia de família; queria colaborar com o pagamento das contas; não era justo ele estar passando por tais sufocos por conta dos gastos excessivos, que ela, inconsequentemente, provocara com compras desnecessárias.
Até que Honório ficou comovido com o despreendimento de Amélia, num primeiro momento. Sabia o valor efetivo daquela jóia, que pertencera a sua bisavó.
Mas...uma pulguinha instalou-se atrás da sua orelha e ali fixou morada. Milhóes de pensamentos e suposições. Ficou mais atento às saídas da esposa, voltava pra casa em horários diferentes, alterou sua rotina de trabalho...
Numa tarde qualquer, chuvosa e muito fria, Honório telefonou a Amélia. Intimou-a carinhosamente a dar um pulo até o escritório. Convenceu-a. Tinha uma boa novidade. Curiosa como toda mulher, deixou a má vontade de lado e não demorou quase nada pra chegar lá.
Estava ansiosa. Nunca havia acontecido qualquer situação semelhante àquela.
__ Tenho um presente pra você, meu amor. Hoje é um dia especial!
__ Presente, Honório? Será que me esqueci de alguma data importante? Você me deixou encabulada!
Ele entegou-lhe uma caixa grande.
Amélia balançava a caixa, virava, revirava, tentando adivinhar o conteúdo. Nenhum ruído. A excitação aumentou; arrancou bruscamente a fita e rasgou o papel que tão delicadamente ornava a caixa. Dentro da caixa grande havia uma outra menor e uma cartinha; mas era estranho, o papel estava amassado e amarelado. Coisa antiga.
Desprezou o papel dobrado e abriu a caixa menor. Não podia ser! Pálida, sem cor, caiu numa poltrona que, por sorte, estva bem atrás dela, tendo nas mãos... aquele famoso conjunto de esmeraldas.
Honório grita a sua secretária solicitando, com urgência um copo com água.
A funcionária obedece e num instante, assustada, entra na sala vestindo um lindo casaco de vison.
Amélia infarta.
NOTA: O bilhete que Amélia não conseguiu ler, escrito num papel velho e amassado, dizia assim:
A você, Gustavo
meu único amor
Estava sozinha
Mais do que precisava
Mais do que podia dar conta.
Chegou VOCÊ de surpresa
Pegou-me de jeito
Não hesitei, me entreguei
E de pronto te amei.
Um brinde de vinho tinto
Só nós dois nos escombros da lua
Ao sentimento que tanto sinto
À minha vida que é só sua!
(para sempre,
sua Amélia)
S.P.27/maio/1972
Obs. Gustavo querido, guarde-o
sempre juntinho de você
Neste"espaço", divido com meus amigos um pouquinho de mim, um pouquinho do que gosto e acredito. E quero compartilhar com eles as pessoinhas que me fazem feliz e que me fazem acreditar na possibilidade de um mundo MELHOR.
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HIRIS LAZARIN