quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sininho deu-nos um grande susto

     A Fada Sininho não sai mais da frente do seu computador, desde que os avanços tecnológicos chegaram à "Terra do Nunca".  Está fascinada com as possibilidades que a Internet proporciona.  Ela nunca se afastara de sua terrinha.  Descobriu que num simples "clicar" pode viajar por esse mundo afora tão grande e tão diversificado.  Da agitação desenfreada das cidades cosmopolitas, onde pessoas e veículos vêm e vão numa grande confusão, pode-se chegar às regiões africanas onde o  sol  impiedoso castiga o lombo de animais obedientes que transportam pessoas e cargas; pode-se conhecer  mananciais preservados onde rios caudalosos, livres e sem pressa ziguezagueiam entre o verdume de vegetação intata, como cobras que se arrastam despreocupadas por vales que conhecem de cor e salteado.
     Num dia desses, explorando outras possibilidades que o mundo virtual oferece, entrou sem querer numa sala de bate-papo.  Ficou observando como os frequentadores da sala interagiam, trocando informações, fazendo amizades e até combinando encontros.
     Uma luzinha acendeu dentro daquela cabecinha travessa e iluminou um letreiro que estivera até então apagado; diante de olhinhos assustados apareceu a palavra "namorar".  Como já sabemos, Sininho sempre foi a fiel companheira de Peter Pan e platonicamente apaixonada por ele, mas consciente da impossibilidade desse amor.
     Ela franziu a testa num gesto de gente que está pensando, os olhos brilharam mais do que já brilham, um sorriso largo e maroto abriu-se em seu rosto de "cabo a rabo".  Foi o caminho de um  pensamento novo que brotou num cantinho escondido de seu cérebro, chegou aos lábios e saiu nos sons que compõem a palavra "AMOR".  Isso mesmo. Uma janelinha de possibilidades abriu-se para Sininho.
     Com os dedinhos ainda trêmulos e inseguros entrou na sala de bate-papo pela primeira vez.   Foi conquistando coragem, confiança e entrou finalmente nas conversas.  Conheceu e conversou com muita gente, mas seu interesse foi-se direcionando cada vez mais para o Toby.  O Toby era simpático, animado e contava coisas maravilhosas do lugar onde vivia.  Estava permanentemente em contato com a natureza; sua missão era cuidar das plantas, flores e animais.  Toby era um DUENDE.                                                                                         
     A amizade foi virando paixão, tamanha a afinidade que havia entre os dois.  Sininho nem se alimentava mais direito, contava os segundos pra se encontrar virtualmente com ele.  Toby já era dono de seu coração e Sininho era dona do coração de Toby. 
     Tudo isso provocava uma grande confusão nos sentimentos de Sininho: era uma mistura de alegria com sofrimento, de felicidade com medo.  Não entendia nada dessas emoções tão conflitantes.  Mas o dia chegou:
     __Estou apaixonada por você, Toby. (um peso saiu de sua alma).
     Toby aguardava essa declaração.  Cauteloso não queria precipitar, nada de pressão.  Queria que ela descobrisse sozinha.
     Tudo corria em segredo entre os dois.  Aguardavam o momento certo pra torná-lo público.  A grande dúvida ainda era: Sininho iria pro reino dos Duendes ou Toby viria à Terra do Nunca?

     Amanheceu na Terra do Nunca.  Peter Pan aparece esbaforido e preocupadíssimo.  Deu um grito tão forte e alto que se espalhou pra todos os lados:
     __Sinnho desapareceu!  Acho que foi raptada!  Sua varinha mágica encontrei-a jogada ao chão.  Ela jamais se separaria dela...
     Os meninos perdidos, o capitão Gancho e os animais todos foram chegando.  Muitas perguntas, nenhuma resposta, correria pra todos os lados num vai-e-vem descontrolado, aves voando sem direção e se chocando no ar, sugestões, opiniões desencontradas...
     Peter Pan permanecia imóvel e mudo.  Não podia perder o controle, teria que gerir aquela situação.  Planos foram traçados e combinados; todos vão ajudar na busca e em grupos se dispersam, cada canto terá que ser revirado de ponta cabeça, a Terra do Nunca não é tão grande assim...
     O tempo vai passando...Não aparece nenhuma notícia.  A noite de mansinho chega e a lua cheia oferece ajuda e brilha mais que nos outros dias alumiando tudo por dentro e por fora.
     Aos poucos retornam todos ao ponto de partida, calados, desanimados, desconsolados.  Tentam disfarçar, mas ouve-se um choro miúdo aqui, outro mais forte ali, soluços...  Ninguém consegue mais segurar aquela dor...
     Peter Pan não desistiu da busca.  Não conseguia imaginar a Terra do Nunca sem Sininho.  Lembrou-se então que ultimamente a Fadinha andava preocupada demais com a preservação da natureza e falava muito em flores.
     Uma ideia!  Quem sabe?
     Numa corria desenfreada chegou ao canteiro mais florido e preferido de Sininho.  Caminhou cuidadosamente por entre as flores e...parece ter ouvido um som quase silencioso.  Peter Pan pôs-se todo em atenção.  Era o arfar da respiração de alguém que dorme o sono dos justos.
     Foi-se aproximando sem se fazer ouvir, abriu as pétalas de uma flor amarelo-ouro e lá estava Sininho, como um anjo nos braços de Orfeu.  Tocou-a delicadamente.  Sininho foi acordando aos pouquinhos e assim que abriu os olhos e reconheceu Peter Pan despejou uma série de palavras desconexas:
     __Computador...Toby...Internet...Duende...
     Estava claro.  Sininho tivera um pesadelo.  Na Terra do Nunca ninguém jamais ouvira tais palavras
    

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HIRIS LAZARIN