sábado, 21 de maio de 2011

Vou contar um causo

     Era domingo.  Brincavam na fazenda do vovô um rapazinho arretado que dizia não ter medo de nada e dois primos seus medrosos de causar dó.
     Naquela semana chegara no pasto, trazido lá das bandas das Minas Gerais, um cavalo orgulhoso e selvagem.  Se alguém dele se aproximava, dava coices e, apoiado nas patas traseiras, quase sentado, empinava as patas dianteiras bem lá pro alto impondo medo e respeito.  Vovô até já contratara um peão pra domá-lo.
     Ninguém ousava chegar perto.  Ninguém não...  Foi desafiado pelo menino  corajoso e sem juízo.  Como quem não queria nada foi se aproximando do animal.  Devagarinho... bem devagarinho.
Olhos fixos nos olhos da fera.  O animal foi se acomodando... se acomodando... Parecia hipnotizado.
     Num impulso violento e rápido o menino saltou, enlaçou as pernas nas ancas do animal e cravou-lhe na pele o salto da botina velha e carcomida pelo uso e pelo tempo.
     O animal nervoso deu um pinote mais alto que todos os outros e saiu galopando desenfreado pasto afora.  Fora desafiado e não gostara disso nem um pouco.
     Entrou no brejo, escorregou no barro, embrenhou-se no mato, saltou sobre montes de galhos secos, fez de tudo um pouco.  Não conseguiu desvencilhar-se da companhia indesejada e intrusa.  Não podia aceitar esse desafio.
     Nessa corrida maluca surgiu a frente um obstáculo maior que todos, uma cerca bem alta feita  de arame farpado.  Parecia que não ia dar tempo; o cavalo não exitou, voou alto feito um gavião e caiu sobre as quatro patas no outro lado do terreno.  Sacolejou pra direita, pra esquerda, relinchou bem alto feito um Titã e vitorioso desapareceu no meio do mato.
     O menino ficou estendido no chão sangrando muito.
     Os outros dois meninos tinham certeza de que o primo estva morto.  Eles não tinham tempo pra perder.  Carregarram o falecido até a casa grande da fazenda, espiaram pela porta principal e  não avistaram ninguém.  Abandonaram o corpo inerte no primeiro quarto da frente e fugiram.  Seja lá o que Deus quiser.
     Morrer o menino valente não morreu.  Senão eu não estaria aqui pra contar esse "causo" que aconteceu com o meu pai.


(texto criado por Hirtis)   

   

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HIRIS LAZARIN