segunda-feira, 22 de abril de 2013

Litote

Depois de quinze anos, está pronto pra nascer o quarto filho do casal "Fernandes". É o tal do "temporão".
Os três filhos, já bem crescidos, não acham nada divertida a chegada de mais um morador naquela casa onde não cabe direito nem quem já mora lá.
Dona Joana tem a idéia não tão feliz de dar a eles a incumbência de escolher o nome. Foi o jeito que arrumou pra tentar afastar o sentimento de rejeição.
Na saleta de T.V., portas fechadas, reúnem-se eles não do jeito fraternal e amigável que a situação exige.
Enquanto isso lá na cozinha, Dona Joana prepara o jantar. Ouve berros, chingamentos, cadeiras caindo...
Depois de horas tantas, entre tapas e beijos, olho roxo, cabelos arrancados, sai a decisão:

Nomes tem de montão
Sortear um foi a solução
"LITOTE" é o nome do nosso irmão.

A mãe ri achando que os filhos brincam com as palavras. Mas diante da seriedade que vê estampada no rosto deles, sabe que a coisa não está pra brincadeira. Será que seus filhos não estão com o juízo perfeito?

O sorriso amarelo, a voz embargada e os olhos lacrimejantes de Dona Joana mostram a satisfação que não sente, a mais pura decepção.

Litote nasceu de cabelo vermelho
Pintadinho que nem ovo de tico-tico
Cresceu num salto de coelho
Dando nó até em pinico.

Não é bobo
Feio também não é
É o avesso do avesso
Mas adora cafuné.

É ligeiro, é safado
Espevitado como ele só
Descuidar de LITOTE é arriscado
Na sua cabeça ele dá nó.

Põe fogo no rabo do gato
De branco pinta o louro Zé
Do pai esconde o sapato
Chama o irmão de chulé
LITOTE nunca paga o pato
Põe dúvida em quem tem fé.

Esse menino não é diferente
Esconde até certa amargura
LITOTE não é nome de gente
E sua moeda é a travessura.

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HIRIS LAZARIN