terça-feira, 19 de março de 2013

Se quiser... acredite

                                            "Se quiser...acredite"


          Entra na delegacia um estranho, muito magro e abatido, cabelos desalinhados à procura do Delegado de plantão.
          Ar tímido e desconfiado, entrega-lhe um envelope amassado e amarelecido; fixa-lhe o olhar por instantes e foge apressado sem dizer um "A".  Desaparece.
          O Delegado abandona o envelope sobre a mesa misturando-o a outros tantos papéis espalhados.
          Absorto está no andamento de sua mais recente investigação: um morador casado, com três filhos pra criar, desapareceu há dois meses; saiu para o trabalho e não mais voltou.
         Lá fora o céu de tão azul dói na vista e o sol, prepotente de tão forte, derrete o piche do asfalto.  Sem mais nem menos, uma rajada de vento entra pela janela escancarada, sopra forte, o tal envelope levanta voo e cai aos pés do Delegado. Vai embora com a mesma fúria de quando chegou.
          O Delegado recolhe o envelope e aperta-o entre os dedos.  "Que esquisito isso!  Com tantos papéis soltos, por que só este voou?  Seria um "aviso" essa manifestação da natureza?"
          Cautelosamente  abre-o e encontra um bilhete escrito em letras garrafais:
                                            PRAIA SÃO SEBASTIÃO
                                        CASA AMARELA PERTO MAR
                                         QUADRO PENDURADO SALA
                                                     "SOCORRO!"
          Sente que não era uma brincadeira de mal gosto.  Teria ligação com a investigação em curso?  O mistério precisava ser desvendado.
          Convoca os policiais disponíveis e partem pra São Sebastião.  A noite não seria empecilho.
          Percorrem a praia toda, examinam cada casa pintada de amarelo e apenas duas estão às escuras.  Entram na primeira e está vazia.  Na sala principal da segunda casa, está lá o quadro pendurado na parede, retratando a óleo o centro histórico de São Sebastião.
          Quebra-o sem dó e no verso da pintura lê-se:
                               Rua 7, número 147
                               Jardim Ângela
          Brincadeira de gato e rato, ou não, o enigma seria decifrado.  Delegado Ferrari não deixa nada pela metade.
          Não foi fácil localizar o barraco caindo aos pedaços em meio a uma favela a perder de vista.  Agora, entrar nele foi fácil.  Tudo foi revirado e nada...
           No quintal bem pequeno apenas uma bananeira morrendo às mínguas e um poço coberto com tábuas soltas.
          Não deu outra: lá dentro apodrecia o corpo de um homem;  no bolso da camisa do morto, outro bilhete:
                                            Meu amor era grande demais
                                            Minha sede de vingança ainda maior.
                                            Você mentiu, me iludiu
                                            Envenenou-me de amor
                                            Como outro jamais...
                                             Uma arma, um tiro, uma dor                                           
                                             Um choro sufocado, sofrido
                                             Adeus...Nunca mais. 
                                                                                 ( Soninha)
          Jonatas era o mesmo cidadão procurado e desaparecido misteriosamente há dois meses.
          Soninha foi localizada, tentou fugir, mas por descuido seu, foi fácil capturá-la.
          Lá se vai uma semana.  O Delegado Ferrari, dever cumprido, joga as pernas sobre a mesa do gabinete e, displicentemente, pega o jornal semanal.  A manchete da primeira página mostra Jonatas, o homem assassinado com um tiro certeiro na cabeça.
          Olha bem a foto.  Não pode ser... Esfrega os olhos, põe e tira os óculos.  Não acredita.  Seria erro de impressão?  Troca de fotografias?
          Não, não havia erro algum.  Jonatas era o homem estranho que chegou na Delegacia e lhe entregara o envelope, aquele que continha as informações e que desvendaram o crime.
           Estaria ele vivo?  O enterrado era outro?  Não, o reconhecimento do corpo pela família, a roupa que vestia, as chaves de casa encontradas junto ao corpo, o exame de DNA, tudo foi comprovado.
                                                        O delegado tremeu
                                                         Suor quente escorreu.
                                                         Ele vai remexer?
                                                         Não... Nem eu.

Texto de Hirtis  

     
            
     
         
          A

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HIRIS LAZARIN