"Se quiser...acredite"
Entra na delegacia um estranho, muito magro e abatido, cabelos desalinhados à procura do Delegado de plantão.
Ar tímido e desconfiado, entrega-lhe um envelope amassado e amarelecido; fixa-lhe o olhar por instantes e foge apressado sem dizer um "A". Desaparece.
O Delegado abandona o envelope sobre a mesa misturando-o a outros tantos papéis espalhados.
Absorto está no andamento de sua mais recente investigação: um morador casado, com três filhos pra criar, desapareceu há dois meses; saiu para o trabalho e não mais voltou.
Lá fora o céu de tão azul dói na vista e o sol, prepotente de tão forte, derrete o piche do asfalto. Sem mais nem menos, uma rajada de vento entra pela janela escancarada, sopra forte, o tal envelope levanta voo e cai aos pés do Delegado. Vai embora com a mesma fúria de quando chegou.
O Delegado recolhe o envelope e aperta-o entre os dedos. "Que esquisito isso! Com tantos papéis soltos, por que só este voou? Seria um "aviso" essa manifestação da natureza?"
Cautelosamente abre-o e encontra um bilhete escrito em letras garrafais:
PRAIA SÃO SEBASTIÃO
CASA AMARELA PERTO MAR
QUADRO PENDURADO SALA
"SOCORRO!"
Sente que não era uma brincadeira de mal gosto. Teria ligação com a investigação em curso? O mistério precisava ser desvendado.
Convoca os policiais disponíveis e partem pra São Sebastião. A noite não seria empecilho.
Percorrem a praia toda, examinam cada casa pintada de amarelo e apenas duas estão às escuras. Entram na primeira e está vazia. Na sala principal da segunda casa, está lá o quadro pendurado na parede, retratando a óleo o centro histórico de São Sebastião.
Quebra-o sem dó e no verso da pintura lê-se:
Rua 7, número 147
Jardim Ângela
Brincadeira de gato e rato, ou não, o enigma seria decifrado. Delegado Ferrari não deixa nada pela metade.
Não foi fácil localizar o barraco caindo aos pedaços em meio a uma favela a perder de vista. Agora, entrar nele foi fácil. Tudo foi revirado e nada...
No quintal bem pequeno apenas uma bananeira morrendo às mínguas e um poço coberto com tábuas soltas.
Não deu outra: lá dentro apodrecia o corpo de um homem; no bolso da camisa do morto, outro bilhete:
Meu amor era grande demais
Minha sede de vingança ainda maior.
Você mentiu, me iludiu
Envenenou-me de amor
Como outro jamais...
Uma arma, um tiro, uma dor
Um choro sufocado, sofrido
Adeus...Nunca mais.
( Soninha)
Jonatas era o mesmo cidadão procurado e desaparecido misteriosamente há dois meses.
Soninha foi localizada, tentou fugir, mas por descuido seu, foi fácil capturá-la.
Lá se vai uma semana. O Delegado Ferrari, dever cumprido, joga as pernas sobre a mesa do gabinete e, displicentemente, pega o jornal semanal. A manchete da primeira página mostra Jonatas, o homem assassinado com um tiro certeiro na cabeça.
Olha bem a foto. Não pode ser... Esfrega os olhos, põe e tira os óculos. Não acredita. Seria erro de impressão? Troca de fotografias?
Não, não havia erro algum. Jonatas era o homem estranho que chegou na Delegacia e lhe entregara o envelope, aquele que continha as informações e que desvendaram o crime.
Estaria ele vivo? O enterrado era outro? Não, o reconhecimento do corpo pela família, a roupa que vestia, as chaves de casa encontradas junto ao corpo, o exame de DNA, tudo foi comprovado.
O delegado tremeu
Suor quente escorreu.
Ele vai remexer?
Não... Nem eu.
Texto de Hirtis
A
Neste"espaço", divido com meus amigos um pouquinho de mim, um pouquinho do que gosto e acredito. E quero compartilhar com eles as pessoinhas que me fazem feliz e que me fazem acreditar na possibilidade de um mundo MELHOR.
Hirtis Lazarin
terça-feira, 19 de março de 2013
terça-feira, 12 de março de 2013
Almoço em família
"Almoço em família"
Domingo, meio-dia
Casa cheia, festança.
muita fome, barriga vazia.
Adultos, crianças, pratos na mão
Cadeiras arrastadas, ebulição.
Arroz, maionese, macarrão
Carne, farofa, salpicão
Frango, assado, destrinchado, judiação!
Alface, vinagre, tomate
cebola, palmito, azeite.
Zé Leandro, moleque espoleta
Lambe o vidro, da malagueta.
SOCORRO! Goela ardente!
Água gelada, acidente.
Prato caiu, espatifou
Os cacos longe voaram.
Tapete novo manchou
Grãos na parede grudaram.
Mama chinga, chora
Esperneia, vai embora
Papai corre, escorrega, cai
Sacode, levanta, ai...ai...
Um grito, final da mesa
E a nossa sobremesa?
Pudim, melancia, " cupcake",
Pavê, melão, doce-de-leite,
Morango, creme e sorvete
Barriga cheia
Mesa vazia
Conversa fiada
Final do dia.
Texto de Hirtis
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