quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A formiguinha que pensava

    Tia Anastácia em suas andanças pelo sítio do "Picapau Amarelo", como sempre procurando não se sabe o quê, por muito pouco não pisa num formigueiro enorme.
    --- Vou avisar a todos lá em casa: Emília, Narizinho, Pedrinho, Rabicó e o Visconde de Sabugosa para que tomem muito cuidado por onde andam.   Picada de formiga, muitas de uma vez só, pode provocar febre alta, inchaço e dor no corpo.   E aí vem injeção, remédio e dias na cama, coisa que ninguém gosta.
    Dona Benta não corre esse perigo, pois com a idade que tem, não se arrisca mais em aventuras pelo sítio.   Quando muito, vai até o jardim ao redor de casa apanhar flores que coloca nos vasos.
    O que ninguém sabia e  nem podia imaginar é que naquele formigueiro vivia uma formiguinha bem diferente de todas as outras.   Não era diferente na forma física, não.   Era diferente no pensamento.    É isso mesmo!   Ela pensava em coisas diferentes.   Não se conformava com a vidinha que as formigas levavam.   Todos os dias a mesma coisa, tudo sempre igual; acordar às seis horas  da manhã, ficar em posição de fila indiana que atingia metros de comprimento e caminhar, caminhar a procura de alimentos, folhas das mais variadas espécies e insetos pequeninos.   E depois, voltar ao formigueiro onde tudo era armazenado.   E começar tudo de novo.
    O formigueiro é uma construçao feita debaixo da terra pelas próprias formigas: um imenso túnel, com muitas passagens formando um labirinto.   Ali vivem as formigas e ali são guardados os  alimentos que conseguiram armazenar.
    A "formiguinha que pensava" estava inconformada com essa situação. Queria viajar, conhecer outros lugares, fazer coisas diferentes, mudar sua vida.
    E assim, enquanto suas companheiras trabalhavam sem parar, ela se escondia debaixo de uma folha qualquer e passava o tempo pensando, pensando.   Tinha certeza que acharia a solução.
    Num dia desses, imersa em seus pensamentos, caiu ao seu lado, quase acertando sua cabeça, um objeto de louça branco, parecendo um vaso, mas não era um vaso, não.   De dentro do tal vaso, uma fumaça foi saindo, saindo e, aos poucos, deixou de ser apenas fumaça, para se transformar num homem gorducho, sorridente, braços cruzados, vestindo uma roupa de cetim brilhante na cor vermelha: camisa aberta na frente, sem botões,  calça  bufante presa nos tornozelos e turbante na cabeça enfeitado de pedras coloridas. A figura era muito estranha.   A formiguinha esfregou os olhos, tornou a esfregar mais uma, duas, três vezes.   Só podia estar sonhando...Mas não estava.  
    Disfarçando seu nervosismo, perguntou:
    --- Mas quem é você?   De onde você vem? 
    ---Sou Aladim, o gênio da lâmpada!   ---disse ele.   Não se assuste, sou do bem.   Acredite em mim.   Estou aqui para realizar seu desejo.
    --- Você já sabe qual é o meu desejo?
    --- Sei sim.   Eu leio os bons pensamentos e ajudo a realizá-los.  
    --- Meu Deus, não posso nem acreditar que isso está acontecendo comigo!   Será mesmo verdade?
    --- É muito simples: feche bem os olhos,  mentalize seu  sonho, acredite no seu sonho.   Só aqueles que sonham conseguem alçar voo.  Só aqueles que sonham chegam ao topo da montanha.
    A formiguinha fechou os olhos bem apertadinho e fez tudo como o gênio mandara.  Primeiro sentiu um friozinho na barriga, depois um vento leve bateu no seu rosto e, então, percebeu que não pisava mais na terra, flutuava no ar como uma bolha de sabão.   E assim foi durante algum tempo.   De repente, sentiu as patinhas apoiadas em alguma coisa sólida, ouviu bem de pertinho o som de asas batendo ao mesmo tempo.  E uma melodia suave era cantada por várias vozes.   Estava ainda de olhos fechados.   Estava preocupada.   Ou será que era medo?   Não sabia definir seus sentimentos.   O coraçãozinho batia descompassado, parecia até que ia pular pela boca.   Tinha que criar coragem.   Enfim abriu os olhos e viu que estava no galho mais alto de uma árvore imensa e, a sua volta, um bando de cigarras agitadas e felizes.
    --- Nossa, o que esse tal de gênio me aprontou?   O que seráde mim?
    --- Olá formiguinha, estávamos a sua espera.   Sabíamos que você viria e hoje estamos de partida para uma tournée musical.   Olha, sabemos que as cigarras não têm fama boa entre as formigas.   Elas  dizem que somos preguiçosas, não gostamos de trabalhar e passamos a vida cantando.   Não é bem assim.   Nossa missão é levar o nosso canto e a nossa alegria  a todos os cantos da terra.   Não pergunte nada e venha conosco.   Você não se arrependerá e muita coisa boa vai aprender.
    --- Confio e vou com vocês.
    --- Chegou a hora da nosssa partida! falou em voz alta a cigarra-chefe.  
     Num instante, cada uma delas enfiou seu instrumento musical num saco.   A a cigarra-chefe ajeitou a formiguinha debaixo de suas asas, de modo que ela ficasse bem protegida e, todas juntas partiram numa revoada só.
    Como era maravilhoso ter asas e poder voar!   Ela nunca tinha tirado as patinhas do chão e   só conseguia voar através dos seus pensamentos!
    Depois de horas de vôo e algumas dificuldades enfrentadas no percurso, como rajadas de vento forte, chuva de granizo, turbulência e muito medo, chegaram ao destino.
        O grupo formado pelas cigarras participaria de apresentações musicais num grande evento organizado pelos príncipes de dois Reinos vizinhos e amigos: os Reinos de Cinderela e da Branca de Neve.
    A formiguinha foi recebida com todo carinho.   Era a convidada de honra.   Ficou hospedada no castelo e não desgrudou mais das princesas.
    Todos os anos, os dois príncipes oferecem uma semana de descanso com eventos culturais e de lazer para todos os seus súditos:  palestras, musicas, show de mágicas, sorteios, gincanas, palhaços, parque de diversão.   Tudo o que você pode imaginar.  Essa é  uma das formas que os príncipes encontraram para agradecer ao povo que tanto colabora para o  progresso e a harmonia do Reino.
   O grupo musical das cigarras se apresentou todos os dias, pois era a grande atração do evento.   E também a grande oportunidade que elas têm de fazer todo  ano o  lançamento de um novo CD.   Quando entravam no palco, o sucesso era de arrepiar.   Com a maior facilidade,  a maioria aprendia a letra das músicas, todas inéditas, e cantava junto.   Formava-se um coral único. 
    Para o encerramento, as cigarras prepararam umasurpresa: tocaram uma das sinfonias de Bethoween.   As cigarras violonistas deram um show.    A formiguinha bateu muitas palmas, mais do que podia.   Suas patinhas incharam por dias seguidos.   Valeu a pena.   Suas amigas mereciam.
    A música acabou.   Incrível!   Não se ouvia um pio na platéia.  Silêncio geral por vários minutos. Estavam todos sem palavras diante de espetáculo tão grandioso!
    De repente, um som miudinho, bem miudinho chegou no ar.   E um pozinho colorido que brilhava foi caindo sobre a cabeça de todos.   Alguém gritou:   
    ---Olhem pra cima!   É a Fada Sininho!                          
    E o pozinho que era mágico foi se transformando em pétalas de rosas de  cores várias.   E bailando como exímias bailarinas, as pétalas foram se mesclando e se organizando no ar, formando um imenso arco-íris que começava no Reino da Cinderela e ia acabar no Reino da Branca de Neve.
     O Reino todo brincou, cantou, dançou e comeu comida boa.   E a festa acabou.
       A "formiguinha que pensava",  durante todo aquele tempo  aprendeu muita coisa, mas queria mais.
    Despediu-se das cigarras e saiu andando sem rumo; perdeu-se dentro de uma floresta enorme.   Muitos dias e noites se passaram e a formiguinha não encontrava ninguém.   Sem perder as  esperanças, continuou seu trajeto, até que, num dia qualquer, ouviu passos entre as folhagens.   Ficou bem quietinha.  Apareceu um jovem bonito e ele se apresentou.    Sabe quem era?   O Robin Wood, o protetor dos pobres e fracos.
    Bem, a "formiguinha que pensava" não poderia ter encontrado companhia melhor e, com certeza, muitas aventuras ainda a aguardavam pela frente.
      
   
     (atividade sugerida: criação de texto envolvendo personagens da Literatura infantil)
     Texto criado por  Hirtis
   


    
   

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HIRIS LAZARIN